Inabalável, Bolsonaro Continua Mandando Bala (Ou, quase morrer não muda nada)

Há aqueles - e são muitos, afinal advogam em causa própria - que creem na redenção do ser humano, na existência de uma humildade latente a todos e que, uma vez sensibilizada, levaria o sujeito a reconhecer sua equivocada conduta pregressa, arrepender-se de suas falhas e tornar-se em um novo homem, mais sensato, responsável, cordato, moral e ético. Ou, como diriam os viadinhos politicamente corretos e dados a misticismos e esoterismos : a evoluir como pessoa.
Este renascimento, porém, esta metamorfose da alma, nunca se dá de forma pacífica e indolor, muito menos voluntária. O novo homem não será parido da leitura dos grandes filósofos, ou dos livros de autoajuda do Augusto Cury - o que dá na mesma.
Todo nascimento é doloroso, traumático e sangrento; que dizer, então, de um renascimento? O gatilho que deflagra a humildade latente - o zigoto do novo ser - é sempre uma porrada. A purificação e o aprimoramento, como bem reza a tradição cristã, vem pelo flagelo e pelo martírio. A revelação - garantem tais avalistas do caráter humano - vem do enfrentamento de uma situação difícil, um apuro, uma sinuca de bico, de uma provação divina; da superação, emerge o ser humano lapidado.
Experiências de quase morte seriam os agentes catalisadores mais eficientes da reconstrução humana - sair milagrosamente vivo de um acidente de carro, de uma queda de 10 andares, acordar de um longo estado de coma, curar-se de um câncer, conseguir se aposentar como professor de escola pública etc.
Ao escapar por pouco da Morte, o sujeito passará a dar mais valor à vida, a aproveitá-la para atos mais nobres, não reclamará mais das pequenas coisas, passará a ver o mundo por um prisma menos crítico, não desperdiçará a segunda chance que Deus lhe deu.
Só que não. Pura balela. Sinto desiludi-los, cabos eleitorais da remissão do espírito humano.
Há 12 anos, dei aula para um tal de Denis, um cramulhão em forma de guri. Ele estava no primeiro ano do ensino médio e eu o punha pra fora da sala, por indisciplina, numa média de três para cada quatro aulas. Ainda assim, garantiam-me as professoras que o conheciam desde a quinta série, que Denis muito melhorara. Quando petiz, só para dar bom-dia à sala, só para esquentar os motores, Denis entrava na sala e ia caminhando até o seu lugar, no fundo da sala, não por entre as carteiras, sim andando por sobre elas.
Vai daí que, lá para maio, junho do ano em que lhe dei aula, Denis foi acometido por uma forte meningite, a pior delas, a bacteriana, letal em muitos casos. Denis foi mantido em coma induzido por quase duas semanas. Enfermeiras do Hospital das Clínicas acorreram à escola para medicar preventivamente os outros alunos da sala de Denis e também os professores - um antibiótico que me fez ficar mijando vermelho por uma semana.
Denis safou-se. Driblou a meningite. Escapou ileso e incólume. Sem nenhuma sequela. Um milagre, asseguraram as professoras mais religiosas, ou seja, 99% do triste professorado público paulista. Na sala dos professores, uma roda de oração foi feita em agradecimento à misericórdia divina - não teria sido mais fácil Deus não ter deixado Denis contrair a bactéria, ou não ter criado tal micro-organismo? Com certeza, vaticinaram as professoras, um novo Denis iria se sentar de volta às fileiras escolares. Um Denis educado, respeitoso e gentil para com os professores, estudioso, agradecido a Deus pela segunda chance.
A primeira semana do retorno de Denis passou sem maiores incidentes. Na terça-feira da segunda semana, já totalmente restabelecido, Denis, como forma de comemorar a sua volta do mundo dos mortos, soltou uma bomba no banheiro dos alunos. Não uma bombinha qualquer, um reles traque. Uma senhora bomba, que chegou a quebrar um vaso sanitário. Humildade é o cacete! Nem a meningite mais letal conseguira lhe dar cabo. Ele, agora, sentia-se invencível.
Eu mesmo já tive ressacas que foram autênticas experiências de quase morte e, muitas vezes, jurei ao Universo que nunca mais beberia. No entanto...
Não sou de citar os grandes pensadores, até porque - já citando um deles - "eu não preciso ler jornais, mentir sozinho eu sou capaz". Contudo, citarei dois outros deles, bem a calhar no caso em questão. O primeiro, o dr. Gregory House : "quase morrer não muda nada. Morrer muda tudo"; e o segundo, o Compadre Washington, do Grupo É o Tchan : pau que nasce torto, nunca se endireita".
O intrépido Jair Bolsonaro, candidato à presidência da república pelo PSL, sofreu um atentado à faca na cidade de Juiz de Fora (MG), na quinta-feira, 06/09. O autor : um cara "formado" em sociologia e ex-militante do PSOL, e o qual a grande imprensa tenta a todos nos convencer de que é um "louco", um "lobo solitário", e não um pau mandado a serviço da esquerda. Fígado furado, intestino lacerado, bosta espalhada por todo o corpo, Bolsonaro ficou entre a vida e o garfo do capeta.
Todos os outros candidatos manifestaram seus repúdios ao atentado, e suas solidariedades a Bolsonaro. Os noticiários e os noticiosos foram tomados por debates sobre a urgente necessidade dos partidos políticos moderarem o tom de suas campanhas, evitarem qualquer tipo de violência verbal em seus discursos.
Muitos julgaram, é claro, que o próprio Bolsonaro, de volta as suas atividades de campanha, estaria mais manso em sua fala, abandonaria a contundência de seu "discurso de ódio" - que é o qualificativo dado pela esquerda e pela imprensa por ela comprada às muitas verdades ditas por Bolsonaro. Puro ciúme da esquerda. É que, no Brasil, discurso de ódio é exclusividade da esquerda. Os vagabundos dos sem-terra podem invadir sua propriedade, os bandidos dos sem-teto, liderados por Boulos, podem ocupar a sua casa, pois são integrantes de "movimentos sociais", mas falar que tem que metralhar esse povo é fazer discurso de ódio. Vejam, só a exemplo, o item 3 do programa do PSOL, partido do esfaqueador de Bolsonaro: "Rechaçar a conciliação de classes e apoiar a luta dos trabalhadores". Logo, logo, a esquerda processará Bolsonaro por "apropriação cultural" de seu discurso de ódio.
Tenho certeza, até, de que muitos opositores de Bolsonaro acharam mesmo que ele se tornaria politicamente correto. Acharam o quê? Que Bolsonaro sairia em cima de um carro de som na próxima parada gay? Que começaria a trocar mensagens de bom-dia pelo whatsapp com a deputada Maria do Rosário e com o deputado Jean Wyllys? Que pintaria o corpo com urucum e participaria de um Quarup ou de uma pajelança em uma aldeia do Alto do Xingu? Que se fartaria de mungunzá com vatapá e dançaria ao som de uma batucada ancestral em uma comunidade quilombola?
Porra nenhuma! Bolsonaro continua impávido, intréprido e inabalável (embora não mais inesfaqueável). Bolsonaro continua mandando bala. Bastou que se recuperasse minimamente, o suficiente para levantar do leito hospitalar, posou para a foto abaixo. Bolsonaro mandou o recado de que está vivo e de que nada mudou.
 "Quase morrer não muda nada."

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