Florilégio

Vasculhei a cidade a recolher flores,
Para ornar aquele vaso solitário ao lado do teu espelho;
Vasculhei a cidade a procurar fios de dálias,
Querendo entremeá-los aos teus cabelos.
Mas me parece que demorei tempo demais.

É que eu perambulei pela cidade
A escolher flores sem espinhos 
Que não fizessem correr a vermelha seiva de teus dedos;
Eu perambulei pela cidade a procurar luzes de azaleias,
Querendo deixar menos sombrios os teus medos.
Mas me parece que me demorei tempo demais.

É que eu varri toda a cidade a cheirar flores
Tentando adivinhar qual não te daria alergia;
Varri toda a cidade a procurar uma maquiagem de lírios
Para ver se conseguia pintar um riso nessa tua agonia.
Mas me parece que demorei tempo demais.

É que eu me perdi pela cidade a roubar flores;
E aqui estou a carregar um jardim,
Mas demorei tempo demais
E tantas eram as tuas dores
Que não podes esperar pelas flores e nem por mim.

Sem dizer única palavra,
Deixo tudo aos teus pés e me retiro :
Passei o dia entre flores,
Mas não cheguei a tempo de trazer perfume
Ao teu último suspiro.

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