Em Ribeirão Preto, Traveco Invade Recinto da Onça-Pintada

O Bosque e Zoológico Municipal Fábio Barreto, moicana célula clorofilada ainda a resistir no coração anóxico e infartado da triste Ribeirão Preto, santuário de remanescente vegetação da Mata Atlântica e abrigo de diversas espécies nativas de nossa fauna, bem como da fauna de quase todos os continentes, teve ontem (27/09) a sua tranquila e plácida rotina quebrada pela invasão de uma espécie exótica da fauna urbana. Exótica, porém, não rara. Tampouco em extinção; antes pelo contrário, aliás.
Uma criatura quase que saída das antigas mitologias, praticamente uma quimera, um híbrido metade mulher e metade elefante : um travecão-campeiro, ou também conhecido - haja vistas à tirânica monocultura da região - como travecão-dos-canaviais.
Estima-se que, por volta das 06:30h (as câmeras de vigilância do Bosque há muito não funcionam), o travecão-dos-canaviais tenha adentrado sorrateiro nas dependências do Bosque, dirigido-se ao recinto dos grandes felinos, pulado o alambrado de proteção do covil da onça-pintada, mergulhado no fosso com água, que serve como barreira entre os animais e os visitantes, atravessado-o a nado e, finalmente, atingido o pátio gramado destinado à locomoção e exibição dos bichanos. As onças, que são recolhidas às suas jaulas à noite, ainda não haviam sido soltas.
Funcionários que iniciavam o turno da manhã flagraram o travecão-dos-canaviais e acionaram o Corpo de Bombeiros e a GCM, a Guarda Civil Municipal. O travecão-dos-canaviais, que atende pelo "nome social" de Nina, portava e brandia uma garrafa quase vazia de conhaque Presidente e estava visivelmente transtornado, bêbado feito um gambá. Com a chegada dos valorosos homens da lei, começou a gritar que era uma vítima da sociedade e a proferir frases desconexas e de significado hermético : "meu tênis está molhado, estou suja, minha bolsa... soltem as bestas, soltem as bestas... tem gente aí no fundo, tem gente me esperando... eu vou sair, tem gente me esperando, de tocaia... vão me dar uma gravata... "
Foram trinta malogrados minutos de negociação na tentativa de que o travecão-dos-canaviais saísse por livre e espontânea vontade. Entre os termos de negociação para deixar o recinto pacificamente, o travecão-dos-canaviais chegou a pedir aspargos e sorvete de pistache. Aspargos e sorvete de pistache... Pããããta que o pariu!!! É muito bicha! Bicha fina, chiquérrima, uma verdadeira lady. Bichinha gourmet. Até que, cansado de tanta viadagem, um agente da GCM entrou em ação e imobilizou o travecão-dos-canaviais; mostrando que conhece muito de seu ofício, que sabe do métier, o guarda municipal pegou o travecão-dos-canaviais por trás e o jogou ao chão. Dali, o travecão-dos-canaviais foi levado a uma UPA (unidade de pronto atendimento), medicado e, depois, levado para a Central de Flagrantes da Polícia Civil.
O incidente pôs em xeque a segurança do Bosque, ou seja, o travecão-dos-canaviais tava muito doido e quem teve que dar explicações foi o coitado do diretor. Alexandre Gouvêa, chefe do zoo, disse que não houve falha na segurança do  perímetro, que o travecão-dos-canaviais, provavelmente, pegou uma trilha alternativa e não vigiada que sai do conjunto Mosteiro do São Bento/Sete Capelas, notório ponto de prostituição masculina, e vai dar no mirante do Bosque. Quanto à segurança do recinto, Gouvêa garante : "o recinto tem aprovação dos órgãos fiscalizadores, com cerca de afastamento e grade horizontal para prevenir quedas no fosso com água, os animais são mantidos em suas áreas de manobra ou cambiamento nos horários em que o zoológico fica fechado. É um recinto que nos atende em todos os quesitos, tanto aos animais e o público visitante. O que aconteceu foi uma situação inusitada"
Mas e a real motivação do travecão-dos-canaviais ter saído tanto assim de seu habitat, de ter galgado escura e íngreme trilha, adentrado o Bosque e se jogado às feras? Isso a imprensa oficial não revelou. E, talvez, não por desconhecimento. Talvez por se tratar de assunto em torno do qual há uma tácita concordância, entre os grandes órgãos de imprensa, de não divulgação : o suicídio, ou a tentativa de.
Não há nenhum indício ou comprovação, mas corre à boca pequena - fiquei sabendo por uma mexeriqueira do trabalho - que a intenção do travecão-dos-canaviais era a de se matar. Mas não se suicidaria sem brilho ou glamour. Queria "causar", partir de forma triunfal, ser estripado, eviscerado, arrombado e, finalmente, comido pelas onças-pintadas. Aos boatos, imediatamente, juntaram-se as más-línguas de plantão : se a intenção do travecão-dos-canaviais era ser comido, deveria ter pulado no recinto do jumento-da-Mongólia; o bicho, dizem, não tem pena nem da mãe.
Corre, também à boca pequena, que parte do vídeo da negociação e da captura do travecão-dos-canaviais foi editada, suprimida. Nela, o travecão-dos-canaviais gritava : "Cadê a pintada? Eu quero uma pintada!".
Corre, ainda à boca pequena, pelas alamedas do bosque, que a ala dos cervídeos - veados, gazelas, gamos, impalas etc - está a se organizar em apoio ao travecão-dos-canaviais e em repúdio às onças-pintadas, que, aliás, foram atendidas pelo psicólogo do zoo e que, embora aparentem não ter sofrido nenhum trauma com o ocorrido, dizem temer por sua segurança futura e ameaçam fazer greve de fome se lhes for, de novo, oferecida carne de segunda. Os cervídeos estão a fundar uma ONG, para terem representação jurídica e poderem processar judicialmente as onças-pintadas. Por homofobia. Por não terem comido o travecão-dos-canaviais.
Pããããããta que o pariu!!!! 
Abaixo, fotos feitas a partir do vídeo.
Para assistir ao vídeo, é só clicar aqui, no meu animalesco MARRETÃO.

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4 Comentários

  1. Rapaz, em RP acontece de tudo, Asa Branca tá perdendo feio.
    "J"

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    1. "Dizem que Roque Santeiro,
      Um homem debaixo de um santo,
      Ficou defendendo o seu canto e morreu..."

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  2. Não tenho dúvida de que o traveco foi dominado graças a um “elemento surpresa”: “o guarda municipal pegou o travecão-dos-canaviais por trás”. Ele já está tão acostumado com isso que achou que ia rolar um clima. E afinal, o valoroso guarda conhece o “métier”

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