Alckmin Dá Reajuste Maior Para Mendigo Que Para Professor

Quando li a manchete publicada na Folha de São Paulo, "Após insistência, Alckmin dá esmola de R$ 5, mas pedinte reclama de valor.", na hora, ato reflexo, e é sério, não tô de sacanagem, pensei que o estimado governador tivesse concedido algum reajuste salarial à sofrida classe professoral, ao menos um bônus de Natal.
Mas não. O pedinte em questão é um pedinte profissional, mesmo, um mendigo, um morador de rua, na fala do politicamente correto. O fato se deu na cidade de São Paulo, na região da Luz, após a saída do tucano de um evento de inauguração de alguma porra.
Como ainda não conseguiu decretar inconstitucional e abusivo o ato de mendicância, como age frente às justas greves dos funcionários, Alckmin tentou se esquivar, desconversar, dar uma migué no mendigo, dizer que a receita de 2016 caiu etc, mas diante da insistência do mendigo - que mostrou ter mais brio que todos os sindicatos que dizem defender os interesses dos trabalhadores e do que os próprios trabalhadores - e das câmeras de tv e jornais presentes, o governador capitulou : abriu a carteira e deu uma generosa esmola de 5 reais pro rapaz, que fez uma puta duma cara de desgosto, a demonstrar uma baita duma decepção.
O cara achou que tinha tirado a sorte grande, que o Natal tinha tardado, mas não falhado, que tinha garantido as castanhas, as nozes, os rojões Caramuru (os únicos que não dão chabu), a Espuma de Prata, a Sidra Cereser e a cueca branca para a virada do ano. 
Quando viu a miséria, quando viu que iria ter que inteirar até para a Pitu, não fez questão de ser cordial nem de parecer agradecido, tampouco de demonstrar um respeito fingido e hipócrita pelo governador, fez cara de cu, mesmo.
O próprio Alckmin, depois que continuou a andar pelo local, comentou com a sua curriola que o pedinte tinha achado pouco. Pois é, governador, tá achando o quê? A mendigada hoje sabe de seus direitos. Tá mais fácil contentar professores que mendigos. Para professor, é só dar qualquer migalha que o cara lhe agradece, beija-lhe os pés e ainda o reelege na eleição seguinte, mas com mendigo o buraco é mais embaixo.
Agora, convenhamos, na minha época, mendigo era mendigo, assumia o personagem, vestia a camisa (ou a falta dela) da categoria, era aquele cara velho, barbudo, desdentado, sebento, fedendo a pinga, vestido em andrajos, descalço, com os pés todos grossos e rachados, carregando um velho e encardido saco de juta, dois ou três cachorros como escolta e família e, principalmente, com aquela ferida enorme na perna, aquela chaga purulenta exibida a troco de uns níqueis - ferida, segundo as más línguas, mantida e aumentada pelo próprio mendigo com vinagre ou qualquer outro tipo de ácido.
Demos agora uma olhadela no rapaz : jovem, saudável, corado e bem nutrido, dá até pra notar uma saliente barriguinha por sob a camisa - mendigo gordo é desmoralizante para a categoria -, camisa que, salvo engano, ou, no caso, ignorância, me parece ser de algum time de futebol, e límpissima, como que saída de um comercial de OMO. E o cabelo do mendigo? Todo estiloso - ou, pelo menos, o que hoje é considerado estiloso -, rapado nas laterais e modelado em penacho de calopsita no cocoruto, e ainda descolorido!!! O cara não tem dinheiro nem pra comer (segundo eles), mas tem dinheiro pro cabeleireiro. Arrisco-me a dizer que se a esmola do governador tivesse sido mais generosa e o mendigo tivesse lhe aberto um sorriso colgate, um aparelho ortodôntico, flagraríamos nos dentes do rapaz.
A verdade é que esse rapaz não trabalha porque não quer, porque é mais fácil viver às custas de esmolas e de programas sociais do que pegar no batente oito horas por dia, ter horário pra entrar, pra sair, pra almoçar, pra cagar etc, ele é parte de um contingente cada vez maior de vagabundos, escroques e parasitas que prolifera pelas cidades de portes grande e médio.
Ao fim do dia, a assessoria do governo enviou um versículo da Bíblia que fala sobre a ajuda ao próximo (“Se alguém disser que ama a Deus, que não vê, e não ama seu irmão, que vê, é um mentiroso” – 1 João 4:20) e disse que o homem “estava precisando”.
Ora, Governo do Estado de São Paulo, enfie os 5 reais no cu! Junto com o versículo! Com a Bíblia inteira! Dobrada e enrolada! Antigo e Novo Testamentos!
E é com essa mensagem de crença e de esperança na raça humana que o Azarão encerra mais um ano de blog, mais um ano de Marreta (mais ou menos) em riste.

Postar um comentário

0 Comentários