Pequeno Conto Noturno (61)

- Oh, pesado amor, Rubens... - diz Joyce, sua personalidade depressiva acordando da anestesia, do efeito opioide do(s) orgasmo(s).
- Na verdade - começa Rubens, voz engrolada pelo rum -, o amor não tem peso - e dá mais uma boa emborcada no rum quente e aguado (que estava forte e gelado quando começou a meter em Joyce) colocado no chão do quarto, ao lado do lado que ele ocupa na cama, mesclando o esquálido álcool ao encorpado bouquet da buceta de Joyce -, na verdade, nada tem peso em si, o peso não é atributo das coisas, nada guarda o peso em si, o peso vem de fora, sempre de fora, o peso não é componente, é resultante, é escolha, ou a falta dela. As coisas, os Substantivos - o fez-se o Verbo que se foda, que o Verbo é puramente desespero de causa - têm átomos, têm massa, que podem se encontrar em maior ou menor estado de agregação, as coisas e os substantivos têm densidade, conteúdo, mas nada disso tem peso. O peso é o produto da gravidade/seriedade, da gravidade/importância, da gravidade/aceleração que aplicamos sobre o Substantivo, seja ele concreto ou abstrato. O peso é a gravidade que imprimimos a algo; o peso do amor, portanto, depende de para qual planeta ele nos abduz.
- Rubens, o que você tá querendo dizer com isso, com essa merda toda? - Joyce, compactando e encaixotando os peitos tamanho 46 num sutiã manequim 42, peitos que, acreditava Rubens, nessa noite, lhe serviriam de cobertores de orelha - Que merda você tá dizendo?
- Oh, pesado amor, Joyce...

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4 Comentários

  1. Gostei tanto, mil vezes melhor que o Amor Líquido, e Bauman que se foda.
    "J"

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  2. Nossa, marreta, que merda é essa?
    Esse run que você anda tomando deve ser de quinta categoria, que merda é essa?

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    1. esse é o problema, eu não tô tomando rum, só a aguada cervejinha.

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