Fecho a porta da sala,
A que dá para a sacada.
Puxo a grossa, pesada
E rústica cortina,
Como se a parca claridade
Da rua
Do céu
Pudesse carregar em si
Gérmens do frio de fora.
Apago as luzes,
Como se a escuridão
Fosse uma lareira de fogo morto :
Não esquenta.
Visto a velha calça
E o velho agasalho de moletom
Sobre o velho corpo,
Uma velha e desfiada meia nos velhos pés,
Um velho cobertor azul
Sintético
(tudo em mim e ao redor é velho -
só esse frio é novidade).
Uma de minhas gatas
Se enrodilha em pantufa nos meus pés :
Não esquenta.
Esquento à ebulição
E tomo o resto de uma sopa de tomates.
Desce-me vermelha
E queimando :
Não esquenta.
Boto um seriado na TV,
Um herói cego,
Atormentado e insone,
Vestido em couro e de demônio
Que soca o mal que vê nos outros
Para acalmar e apaziguar
Aquele que lhe habita :
Não esquenta.
Preparo uma caneca de leite,
Com chocolate, canela
E açúcar queimado,
E deito-lhe farta dose de rum :
Não esquenta.
Defeco,
Expulso,
Ejeto essas palavras,
Constipadas,
Ressecadas,
Restos de refeição apimentada
Por um cu cheio de hemorroidas :
Não esquenta.
11 Comentários
Vc tava indo bem ate antes do cu ninguem que saber do seu fiofo
ResponderExcluirLeitor semiletrado (que é um nome mais delicado para analfabeto) é foda. Eu não disse que meu cu tem hemorroidas, disse que essas palavras saíram com o mesmo esforço e sofrimento que restos apimentados por um cu cheio de hemorroidas, um cu genérico, despregueado como o seu, por exemplo.
ExcluirA famosa ou famigerada (?) sopa de tomates do Azarão, contra o frio, frieira e chulé, confere?
ResponderExcluir"J"
e, principalmente, contra a paumolescência!
ExcluirHAHAHAHAH por aqui só tomate seco rsrsrs
ExcluirLembrei-me na hora de um poema do Vinicius, de que gosto muito. Ficou super legal seu texto. É estranho dizer isso (pois não nos conhecemos, somos apenas leitores um do outro), mas fiquei aliviado por encontrar nova postagem sua, pois o espaço entre esta e a anterior fugiu ao padrão Marreta. Como sou neurótico, fiquei pensando que poderia ter pego dengue ou outra coisa qualquer (isola!). Olha o link do Vinicius: http://www.viniciusdemoraes.com.br/pt-br/poesia/poesias-avulsas/velhice
ResponderExcluirComo você, também estou meio desanimado e desgostoso de escrever por aqui; também penso em parar,daí esse hiato maior que o normal.
ExcluirVou verificar a dica do Vinicius.
abraço.
Pare c isso, Azarão! Vc, além de escrever mto bem, encanta os leitores c o seu senso de humor e sua irreverência....Adoro o seu blog!
ResponderExcluirTambém gosto muito de escrever, acontece que, de uns tempos para cá, não tenho conseguido justamente isso, impor meu senso de humor e irreverência a fatos e notícias do cotidiano. Talvez eles tenham se perdido, sei lá, fico triste com isso, também.
ExcluirE obrigado pelo elogio.
Corrigindo....encanta leitores (as)!
ResponderExcluirQUE LEGAL, MARRETÃO VAI PARAR DE ESCREVER, GOSTEI DA IDEIA!!!
ResponderExcluirFAVOREÇA-ME COM SUA AUSÊNCIA NESSE BLOG NO TOCANTE A VOCÊ ESCREVER, MARRETÃO!!! COPIE E COLE ARTIGOS DOS OUTROS, É MUITO MAIS GRATIFICANTE!!!
ESCREVA MAIS NÃO, MARRETÃO!!! SUA ESCRITA, DIGO MELHOR, SUA AUSÊNCIA VAI PREENCHE UMA GRANDE LACUNA!!!
P.S1.: - Não fique tristinho não, MARRETÃO!!! Eu tô de brincadeirinha contigo!!! O mais difícil não é escrever muito: é dizer tudo, escrevendo pouco. E você é phodinha com PH. VOLTA A ESCREVER, PORRA!!! a gente faz de conta que gosta dos teus escritos e tu pensas que "nois gosta"...
P.S2.: - EU TÔ COM FULEIRAGEM, CARA!!!