Mimetismos (22)

Meu amigo Margá é um entusiasta, um militante xiita das causas ecológicas, ambientais, naturais e de toda a sorte de viadice.
Margá é 100% verde e orgânico. Nas horas de labuta, é professor de química e de ciências, cátedras das quais se vale para promover a catequese das novas gerações ao ecologicamente correto, ofício do qual se aproveita para fazer proselitismo do autossustentável. Margá é um missionário da reciclagem e da coleta seletiva. Nas horas vagas, Margá não descansa nem descuida de sua cruzada pela saúde do planeta, continua a empunhar firmemente o pau da bandeira da ecologia - Margá adora segurar num mastro.
Margá tem um espaço de terra no quintal de sua casa, e pensam que ele faz o quê? Que planta capim-guiné pra boi abanar rabo? Que instala ali uma arejada área de lazer com churrasqueira, freezer, mesa de sinuca etc para receber e beber com os amigos? Nada disso. Até porque o Margá é um dos seres mais sovinas que já pisou a face da boa e velha Terra.
Margá consagra esse seu pequeno espaço de paraíso à Mamãe Natureza, faz dele um autêntico altar de adoração, um oratório à consciência verde cósmica e planetária. Margá cultiva em seus canteiros hortaliças das mais variadas, em especial, os chamados legumes. Margá é um expert no plantio de pepinos, cenouras, nabos, berinjelas e tudo o mais que for roliço e taludo. Botânico diletante, Margá se especializou no cultivo dos vegetais da ordem dos Falicoformes.
Volta e meia, com orgulho de produtor, Margá me envia fotos dos vegetais de sua horta, fotos de vigorosos e suculentos pepinos e de altivas e empertigadas cenouras. Tudo fresquinho, fresquíssimo, aliás; e colhidos na hora. E tudo orgânico e livre de agrotóxicos. Tudo. Margá não se utiliza de nenhum adubo ou fertilizante de origem industrial. É tudo na base do esterco de cavalo e, principalmente, do húmus de minhoca - Margá é aficcionado por um bom minhocuçu. Margá também, vez em quando, cultiva uns jilozinhos em seu minifúndio, mas como não é - nunca foi - grande apreciador da iguaria, o jilozinho, o Margá dá para a vizinhança.
Mas, como não podia deixar de ser, a grande (e grossa) vedete dos canteiros autossustentáveis do Margá, a sua menina dos olhos (do terceiro olho), é a sua, agora na iminência de ser internacionalmente conhecida, plantação de mandiocas.
É à mandioca que Margá, sem negligenciar os nabos e as berinjelas, tem maior apego e afeição. É na mandioca que Margá foca e concentra todos os seus esforços, é para ela que Margá direciona toda a sua erudição e o seu experimentalismo cartesiano de homem da ciência.
Há rumores, inclusive, de que o já antológico - e também tapiresco - discurso laudatório à mandioca feito por Dilma Roussef teria sido redigido por Margá a pedido do Planalto.
Há que tempos que Margá está à procura da mandioca perfeita. Margá planta a mandioca, faz a seleção dos melhores espécimes, realiza fecundação cruzada entre eles, promove a hibridação, a propagação vegetativa com vistas ao aprimoramento genético, faz enxertos - Margá se esquece da vida quando está a enxertar uma mandioca -, participa de fóruns na internet para trocar informações - Margá é chegadíssimo num troca-troca - com outros mandiocófilos etc etc.
Agora, tanto esforço, dedicação e, por que não dizer?, sacerdócio à mandioca foram recompensados. Margá não só aprimorou a mandioca tradicional, a Manihot esculenta, Margá criou uma nova espécie, Margá introduziu um novo táxon nos anais da Botânica.
E como cabe a todo bom pesquisador, Margá conteve a emoção da descoberta (não foi fácil) e concluiu também os detalhes técnicos e acadêmicos : descreveu, classificou e nomeou a nova espécie. Tudo de acordo e dentro dos mais ortodoxos conformes do sistema binomial de Lineu, um conjunto de regras que norteia a nomenclatura científica dos seres vivos, entre as quais a de que o nome deve ser composto por dois termos, o gênero e a espécie, e grafado obrigatoriamente em latim.
Margá, modesto e desprovido de vaidades, na nomeação da nova mandioca, não quis louros nem láureas para si, fez comovida homenagem ao amigo Fernandão, fonte de inspiração de seu trabalho e antigo companheiro de república e de quarto dos tempos da faculdade : ao valoroso e pujante tubérculo, Margá batizou de Manihot camolezii.
Para provar que não está a acochambrar dados, tampouco a promover alguma fraude científica, Margá me enviou a foto de um exemplar da Manihot camolezii. Um mimetismo impressionante. E, no e-mail, abaixo da foto ainda escreveu : ai, que saudades do Fernandão...
Eis o monstro, a Manihot camolezzi. É o que eu sempre digo : vira homem, Margá, vira homem!

Postar um comentário

1 Comentários

  1. Oh, picão!!! O cara com uma pajaraca dessa se for phuder na posição papai & mamãe a jeba vai sair na boca da mulé!!!

    P.S.: - EVIDENTEMENTE QUE, ANTES DA PHODA PLATÔNICA, O BEM DOTADO TEM DE LUBRIFICAR A MANDIOCA COM SABONETE UMIDIFICANTE XANAX, CLARO!!!

    ResponderExcluir