"O amigo ficou horrorizado quando lhe contei alguns fatos da vida: que os
partos se dão como rejeição imunológica ao corpo estranho transplantado
para o organismo da mãe, que até se segura equilibrado na corda bamba
por 40 semanas, mas ao fim delas o organismo expulsa aquele invasor.
Que a quantidade de abortos espontâneos é enorme e invisível, pelo mesmo
processo. Que ninguém deve chorar pela perda de um feto antes dos seis
meses (afora problemas uterinos corrigíveis), pois a natureza está
apenas se livrando de um produto defeituoso.
Que o homem deposita na fêmea de sua espécie três grupos diferentes de
espermatozoides, apenas um deles é fecundador. Os outros dois só existem
para atrapalhar os gametas de outros homens (que, como a mãe natureza
presume, copularam com a fêmea no mesmo período). São os matadores
(capazes de detectar espermatozoides alheios, e de destruí-los com suas
enzimas) e os obstrutores (que entopem a passagem de outros nos
canalículos do colo do útero).
Que, diferentemente do pensamento do senador republicano Todd Akin ("os
casos de gravidez depois de um estupro são muito raros" e "se for um
estupro de verdade, o corpo da mulher tenta, por todos os meios,
bloquear a gravidez"), a mesma mãe natura considera o estupro apenas
como uma das formas de reprodução, bem eficaz, a propósito, já que os
índices de gravidez pós-estupro são bem mais elevados do que os do sexo
amoroso (na Bósnia-Herzegovina, mulheres de 9 a 50 anos engravidaram dos
soldados estupradores).
Para piorar a situação, o sexo violento é, em geral, mais fértil do que o
delicado, por isso as mulheres engravidam mais dos amantes "bicho-pega"
do que dos maridos acomodados.
Que os animais comoventemente monógamos (cisnes, pombos) geram crias
bastardas em torno de 20%. Quando começaram os testes de DNA em humanos,
surpresa: nos casais mais pobres, o nível de frutos extraconjugais
igualava o das aves, caindo à medida que a posição econômica do marido
aumentava (mas nunca sumindo).
Que uma pesquisa americana perguntou às mulheres o que elas prefeririam:
ter como marido um fiel e pacato classe média, ou ser a quinta
concubina no harém de John Kennedy? Preciso dizer que resposta ganhou
com ampla maioria?
"Mas, e o romantismo?", perguntou ele.
Vamos por partes. Primeiro, ele não foi uma criação cultural dos
trovadores do tempo das cruzadas, maridos lutando, mulheres em torres.
Nem começou na idealização dos amores impossíveis.
Com traços mais toscos, ele é produto da seleção natural. Uma forma de
reprodução que aposta mais na qualidade, pelo investimento do homem na
mulher e suas crias (maior taxa de sobrevivência, melhor alimentação e
proteção), do que na quantidade, a estratégia do estuprador.
Logo, não podemos construir nossa ética com base na natureza.
O que faz um leão, antes de se acasalar com uma fêmea sem macho, mas com
filhotes? Mata-os a todos, o que produz instantânea ovulação na fêmea.
Não é incomum que um homem tenha o mesmo impulso, mas a civilização tem outros tantos fatores a considerar."
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