"Os passaportes 
diplomáticos viraram a casa da mãe joana. Depois que Lula os distribuiu 
até ao papagaio da família, ninguém mais aceita ser cidadão comum. Todos
 querem privilégios de fidalgo. A última a entrar nessa é a ABGLT 
(Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e 
Transexuais). O grupo enviou um ofício ao ministro Antonio Patriota, das
 Relações Exteriores, cobrando o que considera ser um “direito”. 
Direito??? ABGLT… Em breve, a turma terá de incorporar o XYLZ, né? 
Afinal, se cada gosto sexual merecer uma militância organizada, faltarão
 letras ao alfabeto em língua portuguesa. Será preciso importar vogais 
dos franceses e consoantes dos eslavos. Sigo adiante.
São 
crescentes a intolerância e o ódio à democracia, exercidos, por incrível
 que pareça, em nome da… democracia. Quando os líderes evangélicos se 
incomodaram com o passaporte especial dos cardeais, poderiam, sim, ter 
reivindicado o fim da distinção. Mas preferiram outro caminho: “Nós 
também queremos; nós também não somos como os brasileiros reles”. Toni 
Reis, da dita associação gay, poderia, então, ter feito o que os 
evangélicos não fizeram: “Chega de privilégios inexplicáveis!”. Mas quê…
 Também ele não quer ser importunado em aeroportos com exigências feitas
 a homens comuns. Reis, afinal, não é ordinário como todos nós; não é 
uma pessoa comum: é um ABGLTXYZ! Como pede isonomia com religiosos, 
entendo que tal condição lhe dá também alcance pastoral…
Nem nas 
minhas antevisões mais pessimistas, aquelas dos 20 anos, imaginei que 
chegaria aos 51 tendo de escrever textos como este.
Uma nota 
para encerrar: quando de esquerda, eu já me incomodava com os nascentes 
movimentos que eu chamava, então, “particularistas”: de gays, de 
mulheres, de maconheiros, de negros, de periferia… Considerava, no calor
 dos meus 17, 18 anos, que aquela gente não entendia como funcionava o 
mecanismo fundamental de reprodução da desigualdade: a luta de classes. 
Aprendi alguma coisa ao longo da vida. Hoje vejo que também eles, além 
dos esquerdistas tradicionais, não entendiam e não entendem o valor da 
democracia. Arremato
 observando que Toni Reis não disse em nenhum momento que a concessão de
 passaportes diplomáticos a líderes religiosos é inexplicável e 
arbitrária. Se a sua turma também tiver o seu, na sua cabeça, estará 
assegurada a igualdade.
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