Professor  reclama de que ganha mal, de que não é respeitado, de que não tem mais  autoridade, de que foi transformado de mestre em babá, de que acaba  executando funções da escola fora de suas atribuições etc etc.
Tudo  isso é verdade. Professor é uma das profissões mais esculhambadas da  atualidade. Professor é achincalhado diariamente pelo aluno, pela   família do aluno, pela direção da escola, pelo governo, pela sociedade  em geral, todos dão palpite no exercício de sua função, cada vez mais  indefinida. E precisou de um bode expiatório para o fracasso da  educação, o professor está lá, de prontidão para o personagem, a postos  para assumir a bronca.
Professor  sofre, sim. E sofre pouco. Professor ainda apanha muito pouco. A culpa  de toda essa descaracterização da profissão é dele mesmo. O professor  foi deixando, paulatinamente, outros segmentos irem adentrando e  deformando seu ofício. Professor foi "abraçando", de bom grado, funções  que não eram dele e hoje lhes são obrigatórias. 
Professor  não tem boca pra reclamar ou enfrentar quem se mete em sua profissão.  Se alguém chega para um médico, um advogado, um engenheiro, um  eletricista, pintor ou encanador que seja e começa a querer ensinar o  cara como ele tem que trabalhar, a pessoa ouvirá um sonoro "vai tomar no  cu" e ficará sem os serviços daquele profissional. Professor, não.  Chega aquele bando de mães semianalfabetas, já tudo filhote da Xuxa, com  filhos relapsos e preguiçosos, e diz na cara do professor que ele não  sabe dar aula, que ele tem que mudar o seu "jeito". E o professor baixa a  cabeça e acata.
E  se, por acaso, o professor começa a se revoltar, é muito fácil  agradá-lo, fazê-lo esquecer tudo : basta dar de comer ao professor.  Professor adora comer. Come compulsivamente. Ofereça um lanchinho ao  professor e ele lhe perdoará por qualquer impropério recebido. Professor  é a classe mais desunida que existe, não se articula para nada, mas  falou que é para encher o bucho, faz mutirão.
E  se o lanche for farto, melhor ainda, aí vem a parte de que ele mais  gosta. Ele pega as sobras dos quitutes e acondiciona em bolsas, em copos  e pratos descartáveis, nos mais diversos recipientes, para levar para  casa, para os filhos, os netos, os cachorros. 
Professor tem mania de levar comida embora na bolsa.
Por isso, não me impressionou, a reportagem publicada hoje, na Folha de São Paulo, Professora é presa acusada de furtar 4 peças de picanha em Ribeirão Preto (SP) .
A  professora, de 32 anos, foi pega no flagra, numa loja do Carrefour,  tentando surrupiar sorrateiramente quatro pequenas, mimosas e discretas  peças de picanha. E adivinha onde ela tentou ocultar o produto do butim?  Óbvio. Na inequívoca e indefectível bolsa. Ainda segundo a reportagem, a  professora bem que tentou dar um "migué", pagou por artigos de pequeno  valor para não dar muito na cara. Que artigos seriam esses? Acho que  "umas duzentas" gramas (sic) de "mortandela" (sic, de novo), um  pacotinho de sal, um envelopinho de óregano e, claro, a inseparável Coca  Zero. Mas não deu certo, o ardil da nobre mestra. Foi encaminhada ao  xilindró feminino mais próximo e, até ontem, estava sem advogado.
Na minha opinião, talvez infectada pelo espírito natalino, acho que ela tinha de ser perdoada.
Por quê? Qual seria sua defesa?
Simples. Vícios da profissão. 
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