Os Cabaços de Cristo

Cabaços nunca foram itens do cardápio da mesa do pobre, nunca compuseram a marmita e/ou o prato feito do povão, nunca foram comidos a quilo nos plebeus self services.
Cabaços sempre foram finas iguarias destinadas a nobres paladares, sempre foram requintados pratos reservados e servidos com pompas e circunstâncias a seletos comensais de sangue azul e de ascendência divina. Cabaços sempre foram artigos gourmet raros e exóticos ofertados em sacrifício aos antigos deuses, reis, faraós, monarcas, imperadores, chefes de estado e, claro, ao Espírito Santo.
Aliás, hoje, a depender de um cabaço, a depender de uma bucetinha ilibada e zero km, o Cristo nem teria sido concebido. E é justamente pro lado do Nazareno que a coisa tá pegando. Acredito que muitos não saibam, mas o Cristo é um dos últimos donos de uma reserva especial e exclusiva de cabaços, um dos derradeiros sultões detentor de um harém lacradinho, ainda na embalagem original de fábrica.
São as Esposas de Cristo, a Ordem das Virgens Consagradas. Não necessariamente freiras, as esposas de Cristo são mulheres virgens que passam por uma cerimônia de consagração e, a partir de então, tornam-se eternamente comprometidas com Cristo, usam aliança de casamento para demonstrar sua devoção e ficam impedidas de qualquer contato físico com outros homens. Na cerimônia, as mulheres vestem-se de noivas e juram castidade perpétua a Cristo.
A Igreja Católica estima que haja, hoje, cerca de 5.000 esposas de Cristo consagradas em 42 países, com maior concentração na França, Itália e Argentina. O número já foi bem maior e continua em franco declínio; em parte pela sangria de fiéis que a Igreja Católica vem experimentando em suas fileiras nos últimos tempos, mas, sobretudo, pela escassez da mercadoria cabaço; hoje, um cabaço é mais raro que combustível na bomba durante greve de caminhoneiros. Uma coisa somada a outra e o casamento de Cristo caminha para um divórcio.
Para salvar o matrimônio de seu filho mais dileto, de seu arrimo de família, para não ter que abolir, por falta de contingente, a tão tradicional Ordem das Virgens Consagradas, a Igreja Católica resolveu decretar, então, a Abolição dos Cabaços, deu alforria às periquitas das beatas, que, afinal, também são filhas de Deus.
É isso mesmo, caro e estupefacto leitor, a partir de agora não é mais necessário ser mais virgem para se tornar uma esposa virgem de Cristo, não é preciso mais ser virgem para ser uma Virgem Consagrada. 
Um documento, o Ecclesiae Sponsae Imago, divulgado pelo Vaticano neste mês diz que uma mulher não precisa ter "mantido seu corpo em perfeita continência" para se tornar uma virgem consagrada, que "o chamado para dar testemunho do amor virginal, matrimonial e fecundo da Igreja por Cristo não é redutível ao símbolo da integridade física". E finaliza : "Assim, ter conservado seu corpo em perfeita continência ou ter praticado a virtude da castidade de maneira exemplar, embora de grande importância em relação ao discernimento, não são pré-requisitos essenciais para a admissão à consagração"
A virgindade mais importante, a pureza mais valiosa, segundo o documento, é a dos atos, a das condutas, a da moral e da espiritualidade. Possuindo-as, a mulher, ainda que seu cabaço já tenha ido e ficado apenas as recordações, está apta a ser uma Virgem de Cristo. Virgindade de conduta, moral e espiritual, é? Finalmente, depois de dois milênios, desvendado o mistério da concepção imaculada de Maria.
Claro que tal documento do Vaticano não passou despercebido pela comunidade católica, claro que não deixou de provocar grande celeuma no seio da Igreja, principalmente dentro da própria Ordem da Virgens Consagradas, onde o decreto papal caiu feito uma bomba. Tal decisão criou uma resistência por parte da Virgens Consagradas que já lá estão, quiçá uma futura dissidência dentro da Ordem, um cisma, um "racha" das que ainda têm intactas as suas rachas. Haverá, e não demora muito, a ala das cabaços xiitas, fundamentalistas, daquelas que nunca tiveram sequer um pau nem na boca nem no cu, e a ala das virgens não ortodoxas, das moderadas, das virgens nem tanto ao céu nem tanto ao inferno, da virgens do "Centrão", digamos assim, bem do centrão, se é que vocês me entendem.
A Associação de Virgens Consagradas dos EUA, através de sua líder, a Cabaço Superiora, divulgou uma moção de repúdio à decisão do Vaticano, classificando-a como "profundamente decepcionante". "Toda a tradição da Igreja sustentou firmemente que uma mulher deve ter recebido o dom da virgindade - isto é, material e formal (físico e espiritual) - para receber a consagração das virgens", desabafou a Cabaço Superiora.
E o Cristo, o que será que está achando disso tudo? Acho que pouco se lhe dá. Ao menos, de acordo com os relatos bíblicos, o Nazareno nunca demonstrou muito interesse ou apetite no tal quitute, fosse ele virgem ou não.
A Igreja Católica, sempre acusada de retrógrada, desta vez se antecipou à Ciência. Colocou-se à frente da Biologia Evolutiva e declarou o hímen um órgão vestigial, pô-lo a fazer companhia ao apêndice e ao cóccix, ou seja, órgãos que ainda conservamos, que devem ter sido de grande funcionalidade para nossos ancestrais evolutivos, mas que, atualmente, não apresentam nenhuma utilidade ou significado para nós.
Meu amigo, filósofo e, agora vejo, também profeta Fernandão, quando éramos jovens, quando tínhamos todo o tempo do mundo (ele ainda pensa que tem), vivia a repetir uma frase que, à época, nunca pude de todo compreender e desvendar o significado, era uma espécie de bordão dele, um mantra que ele entoava à exaustão : " 'Caba, não, mundão... Cabacim que é bom tá em extinção", ou algo muito parecido a isto. Como, à época, decifrar tão insondável centúria nostradâmica? Mas, agora, à luz das novas revelações da Igreja Católica, a frase do Fernandão se despe de seu hermetismo e se revela um vaticínio de grande precisão e de fácil compreensão.
Aliás, meu corno amigo, tá em extinção, não. Estava, na nossa época, em nossos anos dourados. Agora, acabou de vez. Só podem ser ainda encontrados conservados em formol nos museus de anatomia, em ilustrações detalhadas nos livros de medicina e embalsamados naquelas tias velhas e solteironas.
Pããããããta que o pariu!!!

Fonte : National Post

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6 Comentários

  1. Azarão, qualquer problema sobre o cabaço ser obrigatorio ou não, o jeito é levar a questão para ser discutida no pleno do STF. outra possibilidade é levar as postulantes a esposa de cristo que já abriram as porteiras a algum dr. Pitangui dos cabaços.

    Ps - esse dr pitangui é citado no filme 'bonitinha mas ordinária' que assisti na saudosa tv manchete num sabadão à noite e rendeu umas homenagens à vera fischer...

    Cássio - Recife / PE.

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    1. Essa modalidade de cirurgia plástica, a reconstituição do cabaço, é antiga, muito usada por biscates quando conseguem fisgar algum bom partido. Grande Vera Fischer... eu tive uma Playboy dela, de 1982, que muito me serviu nas horas de solidão.

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  2. Azarão, se você já fez, eu desconheço mas essa fixação (ou tara mesmo) de muitos homens por cabaços poderia render um ótimo texto seu, daqueles com reflexões e muito humor sobre o tema. Que achas? Cordial abraço e um bom fim de semana.

    Cássio - Recife/PE

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    1. Acredito que um texto tratando especificamente sobre essa obsessão, sobre esse fetiche de alguns homens pelo cabaço, ainda não tenha escrito, não. E é um bom tema para eu dar uma pensada. Mas tem uma postagem antiga, de 2010, sobre a ilha de Guam onde o cabaço é algo indesejável, onde a mulher tem que perder o cabaço pra poder casar. Se quiser dar uma olhada:
      https://amarretadoazarao.blogspot.com/2010/01/os-arranca-cabacos-de-guam.html

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  3. Tenho q me mudar pra esse oásis kkkkk. Vou conferir!

    Cássio - Recife/PE

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  4. Que sacanagem , o cargo é só para os nativos...

    Cássio - Recife/PE

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