Viva a Buceta Rosa! Viva o Humor Brasileiro!

O brasileiro é cordial para com o turista estrangeiro - pudera, todo o mundo é cordial para com o dólar. O brasileiro é hospitaleiro, é acolhedor, mi casa sua casa. O brasileiro abraça o gringo, ensina-o a sambar, leva-o para visitar favela, dá-lhe caipirinha, amarra-lhe fitinha do Senhor do Bonfim no pulso, calça-o com um par de havaianas e, porque ninguém é de ferro, sacaneia o gringo, apronta poucas e boas com ele.
Brasileiro adora tirar um sarro de gringo, adora fazer com que o gringo faça papel de bobo. Nesse quesito, a brincadeira mais tradicional é ensinar certos termos e expressões de nossa língua, de preferência palavrões e frases de duplo sentido, para que o desavisado visitante as aplique de forma inadequada, as utilize fora de contexto, provocando, então, a piada.
Por exemplo, o gringo pergunta ao brasileiro, "como ser good morning em português?". E o brasileiro responde, "é vai tomar no cu". E o gringo sai felizinho da vida, esbanjando simpatia para com os nativos, sai distribuindo "vai tomar no cu" pra todo mundo, pro recepcionista do hotel, pro taxista, pro jornaleiro etc. Todo mundo ri. Ninguém se ofende. Até o gringo, depois de lhe esclarecido o embuste, ri. "Como ser thank you em português?", pergunta o gringo. "É obrigado, meu viado", ajuda o sempre solícito brasileiro. E a coisa por aí segue.
Havia, inclusive, na década de 80, ou de 70, um quadro do Jô Soares no qual esta modalidade do típico humor brasileiro, do nosso humor raiz, digamos assim, era explorada. Não lembro o nome do personagem e não consegui encontrá-lo na internet, mas o Jô interpretava um gringo, um ianque, que perguntava aos "amigos" sobre termos em português dos quais tinha dúvidas. Ele, querendo elogiar uma moça, dizer que ela tinha um belo sorriso, perguntava aos amigos e eles lhe instruíam, "ela tem um boa bunda". E todo mundo ria. Em rede nacional. E ninguém se ofendia. Não tinha mimimi de feminista nem de quaisquer outros tipos de vagabundos e desocupados.
O cantor inglês Ritchie, o comedor da Menina Veneno, conta que também foi "vítima" muitas vezes desta saudável sacanagem tupiniquim por parte do cantor Lobão. E são amicíssimos até hoje.
É um tipo de humor que é parte de nosso Patrimônio Cultural Imaterial. É uma espécie de batismo de fogo para o gringo, um ritual de passagem, um abraço de boas-vindas, uma demonstração de acolhimento e bem-querer, uma maneira macha de dizer, "agora, você é um dos nossos".
Porém, a Santíssima Trindade da Repressão Global - o Politicamente Correto, os Patrulheiros Ideológicos/Justiceiros Sociais e a Globalização -  está de olho nesta vertente gaiata do humor brasileiro. O Politicamente Correto - a cartilha do pensamento dos que não conseguem pensar, o fast food de opiniões para quem não é capaz de formar as próprias, os azedos, rançosos, invejosos e desprovidos de todo e qualquer talento -; os Patrulheiros Ideológicos e Justiceiros Sociais - a matilha de guarda do primeiro, raivosa, sifilítica e acéfala; a Globalização - a maior ditadura já instalada no planeta -, Orwell, se vivo, coraria de vergonha pela ingenuidade de seu 1984.
Desde semana passada (sim, a notícia é velha, mas meu ritmo de escrita, também), turistas brasileiros na Rússia, autênticos adidos culturais do Brasil a representar no estrangeiro este viés travesso de nosso humor, vêm sendo trucidados através das redes sociais; um deles, me parece, até perdeu o emprego. Diplomatas de nossa cultura mais popular - a piada -, embaixadores de nosso humor de raiz, ganharam a pecha de "criminosos". Sim, a eles assim se referiu um âncora de um jornal do canal Globonews - ações criminosas são praticadas por brasileiros na Rússia.
E tudo porque fizeram, na Rússia, a brincadeira de ensinar aos nativos do local uns palavrõezinhos, tudo porque quiseram compartilhar de nossa genuína cultura com os austeros russos.
Em um dos vídeos, os brasileiros abordam um jovem russo e dizem que querem gravar uma mensagem dele para o povo brasileiro. Como o russo não fala picas de português, os brasileiros lhe passam o script. Fala "eu sou um filho da puta", orienta o brasileiro, e o rapaz, muito feliz da vida, muito alegre, repete, "eu sou um filho da puta". Fala "eu sou viado", e o rapaz, "eu sou viado". Fala "eu dou pro Neymar", e o rapaz, "eu dou para o Neymar". E os dois, o brasileiro e o rapaz russo, saem satisfeitos da vida. Algum prejuízo foi causado à vida do rapaz? Algum trauma? Alguma violação de direitos? Alguma coação?
Em um outro vídeo, o que ficou mais famoso, o da buceta rosa, brasileiros pulam e cantam em volta de uma torcedora russa, uma maria chuteira lá deles, "essa é bem rosinha, essa é bem rosinha... buceta rosa, buceta rosa". E a moça entra no coro com eles. Assédio? Conduta criminosa? Não vi ninguém agarrando a moça, ninguém passando a mão nela.
Em um outro ainda, brasileiros abordam duas estrangeiras, alegrinhas e festivas, muito simpáticas com os rapazes, e também lhe passam o roteiro . Fala "buceta loura, loura!", "I love Brasil", "Eu vou dar para Thiago, vou dar a buceta loura". Ao fim do vídeo, eles se despedem e cada qual segue o seu caminho. Assédio? Em nenhum momento, os rapazes sequer tocam nas moças, nem mesmo os de praxe "três beijinhos". Conduta criminosa? A moça, de fato, ia dar pro Thiago? O Thiago, em algum momento, tentou convencê-la a tal ato? Acho que nem o Thiago tava afim, naquele momento, de comer a russa, tava mais querendo tomar sua cerveja e se divertir com os amigos.
Brincadeira e piada de mau gosto? Pode até ser. Mas ainda uma piada. Quem disse que uma piada tem que ser engraçada para todos que a escutam, que o humor ou é unanimidade, ou não é humor?
Por outro lado, basta sintonizar numa rádio para ouvirmos, a exemplo, o funk "novinha senta na pica". Ou o mais recente Open The Tcheka, de autoria de Mc Lan, cuja letra guarda raros momentos de poesia : "Vamos ensinar inglês/Pras buceta analfabeta/Vamos ensinar inglês/Pras pepeca analfabeta/Open the tcheka, vai!/Open the tcheka, vai!/Open the tcheka/Ain, ain, ain/I love you too cu/Então senta no piru/I love you too cu/Então senta no piru.
Buceta rosa é conduta criminosa, é assédio. E novinha senta na pica, ou vamos ensinar inglês pras buceta analfabeta, são o quê? Liberdade de expressão musical, diversidade cultural, cultura dos oprimidos, berrarão em uníssono os politicamente corretos. E arrisque-se, você, a dizer que não, a dizer que acha esse tipo de "música" um lixo. Taxar-lhe-ão, no mesmo instante, de preconceituoso, de elitista, de racista, de filho do Bolsonaro.
Eu só queria saber quem é que decide isso. Quem é o juiz dessa merda toda? Quem é que toma duas situações de incríveis e inegáveis verossimilhanças e diz : esta não pode, é assédio, é crime; esta está liberada, é liberdade de expressão? Por que "buceta rosa" causa constrangimento e "novinha senta na pica" não? Por que há liberdade de expressão para "novinha senta na pica" e não para a "buceta rosa"? Ou por que não há a condenação para os dois casos?
Quem é que está por trás de toda essa ditadura do pensamento?
Vivas para os brasileiros na Rússia! Viva o humor brasileiro! Viva o Zé Trindade! Viva o Costinha! Viva o Ari Toledo! Viva o Paulo Silvino! Viva o Agildo Ribeiro! Viva Manuel e Carlos Alberto de Nóbrega! Viva o Zé Bonitinho! Viva Paulinho Gogó e Mateus Ceará!
E, claro, viva a buceta rosa!

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4 Comentários

  1. Essas pragas - esquerda e o politicamente pelo jeito, nem tem como ser combatidas pela argumentação; temos que partir pra ignorância. É o jeito...falando nisso, você leu algo sobre reserva de vagas - cotinhas - ou nas palavras deles, "ações afirmativas" sobre 30% de vagas reservadas para "afro-descendentes" em estágios no setor público? Assim tá muito fácil né meu caro?

    Cássio - Recife/PE

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    1. Sim, já ouvi falar de mais essa patifaria. Inclusive, isso já vem acontecendo de maneira extraoficial até para vagas de professores em universidades públicas. Sei disso porque trabalho com uma professora cujo marido tem até pós-doutorado e vem concorrendo em vários concursos desses. Se entre os candidatos, todos com, no mínimo, doutorado, haver um afrodescendente, é o que basta para a vaga ser dele.
      Ora, essa pessoa, afrodescendente, pode até ter tido menos oportunidades lá atrás, no início de sua formação escolar, mas hoje é um doutor, ou seja, todas as diferenças e discrepâncias que possam ter existido já foram niveladas, correto? Mesmo assim, saem na frente.
      É meu caro, assim fica muito fácil, mesmo.

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  2. Você é um babaca. A diferença é que quem canta funk obsceno não foi coagido (e nem exposto) por ninguém e sabe muito bem o que significa cada termo. E que se foda se é imoral, escuta quem quer. Você esta comparando coisas incomparáveis.

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    1. Bom, primeiramente, agradeço o babaca, que, vindo de um(a) politicamente correto, consumidor de ideias prontas, é sempre um elogio.
      Como eu disse e vi nos vídeos, não vi ninguém sendo obrigado ou coagido.
      Escuta quem quer? Eu nunca quis escutar essas excrescências e sou exposto a elas pela mídia; crianças são expostas a essa merda diariamente.
      Eu sei o significado dos termos, é verdade. Mas será que uma criança de, sei lá, 3, 4 ou 5 anos, sabe? E, no entanto, é comum essas "músicas" tocarem em festas infantis e as crianças dançarem, rebolarem e reproduzirem os movimentos lascivos com a maior alegria e aprovação dos pais. Crianças fazendo encenação de putas.
      Será que as duas coisas são tão assim incomparáveis?

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