Pintura Íntima

Depois de há tanto
E de tantos imaginados reencontros,
Eles se encontraram.

Aconteceu uma escada,
Como no dia da Anunciação.
Mas ela não tropeçou,
Nem nos degraus
Nem nas palavras.

Olharam-se,
Sorriram-se.
Não estando a sós,
Conversaram três ou quatro minutos
De trivialidades
E só.

Abraçaram-se
(e o abraço deles conservava a promessa das mesmas promessas que nunca puderam ser cumpridas)
E tchau.
Até um dia.

Houve revoada
De fogos de artifício pelo ar?
Repique de sinos nos campanários?
Não.
Apenas por dentro dos dois.

Como bem cabe
A um amor não realizado
Sem mais esperança de ser.

Envelhecido
Amadurecido em barris de fracassos
E resignações.

(aquele momento : uma foto em sépia, incubada num triste casulo de âmbar).

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7 Comentários

  1. Muito bom! Às vezes eu me pergunto o quanto tem de autobiográfico em seus poemas, mas não precisa responder.

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  2. Espetacular, Marreta. Esse poema me deu até saudade de escrever.

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    1. Acho (e somente acho) que voltei.
      https://efemerostrajetos.blogspot.com/2024/07/um-monologo-sobre-os-meus-enfins.html

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