Macumba On The Rocks

Valha-me, Santo Exu Caveira!!! Rogai por nós, Zé Pelintra!!!
É fato sabido, patente e amarrado que há tempos não se forjam mais machos como nas antigas.
Agora, pelo que vi hoje, mesmo as entidades, os espíritos africanos da Umbanda, da Quimbanda e do Candomblé estão a afrouxar, a se ocidentalizarem, gourmetizarem-se.

Há 40, 50 anos, quando eu molecote e a cidade três ou quatro vezes menor do que é hoje e ainda se preservavam e praticavam as tradições de nossos antepassados, era comum e recorrente, a caminho da escola, sobretudo nas manhãs de sexta-feira, nos cruzamentos de certas ruas, depararmo-nos com despachos, também chamados de oferendas ou ebós, feitos em intenção de algum favor de um santo ou de um orixá.
 
Cada entidade tinha lá seus comes e bebes preferidos, o que levava a pequenas variações em cada despacho, porém, no mais das vezes, a oferenda consistia de uma tigela de barro com farofa amarela, miúdos e sangue de galinha preta, velas das mais variadas cores (amarela, vermelha, preta), cigarros ou charutos estoura-peito e cachaça da mais vagabunda. Item, esse último, que muito fazia a alegria dos bebuns madrugadores, que se desculpavam, pediam licença pro santo e levavam a pinga para entornar em seu caminho. 

O pai do meu grande amigo Fernandão, o lendário Luizão, em seus tempos de Tiro de Guerra, a caminho do quartel ao romper do dia, muito já se serviu das aguardentes ofertadas aos orixás. Chegava ao quartel já calibrado. Imagino a mira do Luizão ao atirar com o fuzil.

Atualmente, é muito, muito raro, darmos de cara com um despacho. Hoje, no entanto, ao passar por uma praça a caminho do trabalho, deparei-me com um deles. Um despacho simples, com poucos elementos, frugal, low carb, eu diria, até.
Uma tigela de barro com farofa amarela ao centro, encimada por uma rosa branca e flanqueada por pimentas vermelhas, malagueta ou dedo-de-moça, não sei ao certo. Um bilhete escrito num papel dobrado em quatro, com o pedido para a entidade destinatária, na certa, e o que mais me chamou a atenção e causou-me estranheza : uma garrafa de whisky em lugar da aguardente; perto dela, um copo Nadir Figueiredo servido da bebida e um charuto. 


Como assim whisky? Tudo bem que é um Old Eight. Deve ter muita pinga por aí até mais cara que ele, mas ainda um whisky. Que Preto Velho é esse, misifio? Um black old scottish? Do clã do Kunta Kinte? Um orixá das Highlanders?

Valha-me São Christopher Lambert!!!!
Não vai restar nenhum!!!

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3 Comentários

  1. Sabe o que é? A cana de açucar está sendo usada para produzir etanol. Aí, não sobra muito para fazer cachaça. Lembro que algum conhecido ao encontrar a ofereda,pegava a cachaça e enfiava o pé no resto. Agora, fato curioso mesmo aconteceu em uma ruazinha perto de minha casa. Não é um cruzamento, é um entroncamento, um T. Mas é deserta. Um dia, passando ela deparei-me com um despacho que tinha também uma placa roubada de cemitério.

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  2. No meu tempo de adolescente tínhamos que tomar espumante cereser quente e pitu batizada, quanto muito um run montila... Essa geração nova até mesmo para roubar bebida da macumba é mais previlegiada :)

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  3. Meu irmão costumava pegar carteiras de cigarro no caminho para a faculdade. Era um trajeto comum, na época, para despachos. E olha que naquela época era só cigarro Carlton, um dos melhores na época. Pela capa, percebo que este charuto é um Phillies Titan e custa em torno de R$ 10,00. Alguns exus preferem charutos a cigarros.
    Abraços!

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