Tag Bier : o Equilíbrio do Universo foi Reestabelecido

Depois de provar da boa, dinamarquesa e não tão barata cerveja Faxe, uma aflição, uma inquietude se fez em mim. Uma urgência a ser satisfeita a bem do equilíbrio cósmico, da compensação Universal : descobrir e provar duma nova boa e barata para equilibrar os pratos da balança do Caos e da Ordem.
O Universo, ele próprio preocupado e abalado com a discrepância de eu ter gasto mais que dois reais com uma cerveja - dissonância espaço-temporal que poderia pôr em risco a Realidade corrente e todas as Realidades que desta poderão se ramificar -, em seu próprio socorro, veio ao meu.
Ontem, saí de casa sem nem suspeitar que meus passos, se não totalmente guiados pelo Universo, seriam levados por ele a uma mudança no meu caminho, para corrigir o desvio de meu ato impulsivo, impensado e perdulário de ter comprado a Faxe. O Universo cuida dos seus. E, principalmente, de si mesmo.
Precisei ir até a escola de meu filho para pegar um declaração de matrícula do ano de 2020, documento necessário à renovação do cartão do transporte público que lhe dá direito à meia passagem. Caminho obrigatório até a escola : passar pelo centro velho da cidade.
Evito o centro. Só passo pelo centro se estritamente necessário, se não houver rota alternativa possível. Um show de horrores, o centro. Um povo feio, chucro, fudido, gordo, desdentado, sorridente e barulhento. Ambulantes, pedintes, viciados em crack, distribuidores de panfletos, estátuas vivas, vendedoras de chip de celular de voz esganiçada, chineses a dominar o segmento das lojas de R$ 1,99, matilhas de pombos pestilentos a se alimentar dos restos e da sujeira humana. Tudo e todos se comunicando num dialeto, num subidioma que, muito vaga e injustamente, pode ser associado à última e bela Flor do Lácio.
Uma edição revista e ampliada da Divina Comédia, de Dante, fosse lançada, um décimo círculo infernal, obrigatoriamente, teria de lhe ser acrescido : o centro de Ribeirão Preto.
E, ontem, fui e voltei por ele. Quase que invariavelmente, vou pela rua General Osório e volto pela Mariana Junqueira. Mas, ontem, quando dei por mim, e vejo agora que já era o Universo em busca do equilíbrio perdido, estava a voltar pela São Sebastião, rua paralela e alguns quarteirões acima das supramencionadas, logradouro pelo qual pouco transito e, por consoante, pouco conheço de seus comércios. A certa altura da São Sebastião, meus olhos foram atraídos para uma pequena filial da rede de supermercados Dia. Imediatamente, como se plantado na minha cabeça, um pensamento me veio : já que estou aqui, não custa entrar e ver se acho alguma boa e barata.
Entrei e nem precisei procurar muito. Entrei e parecia que ela tinha sido posta ali somente para ser encontrada por mim. Entrei e lá estava ela : Tag Bier.
Tag Bier Cerveja puro malte. De R$ 2,19 por R$ 1,89. Uma puro malte do naipe da Petra, da Cacilidis, da Império, da Bohemia e outras que tais não saem por menos que R$ 2,59, nos mercados aqui da cidade. Peguei a lata e tentei ler as letras pequenas do rótulo lateral, as informações sobre teor alcoólico, o seu local de fabricação, a cervejaria responsável etc. Tentativa vã sem meus óculos de leitura, minhas muletas para meus paralíticos cristalinos, o viagra dos meus cansados olhos.
Era barata, na certa. Mas seria boa? Aí é que entra meu espírito indômito de explorador do desconhecido, de desbravador de novos territórios. Decidi dar, sem medo, este tiro no escuro. Comprei meia dúzia. Pu-las a gelar e provei. Uma cármica satisfação me dominou : era boa, excelente. E barata. E as engrenagens do Universo estavam a girar novamente em perfeita comunhão.
Satisfeitas minhas urgência e aflição, pus meus óculos e li as referências na lata. Não à toa era boa e barata. Tinha pedigree. Produzida pela tradicional e respeitável cervejaria Casa di Conti, também responsável pela outra puro malte boa e barata 1500, já mostrada aqui no blog : Cerveja 1500, Uma Descoberta. Produzida com as águas puras e cristalinas de Socorro (SP), estância mineral do Circuito das Águas Paulista.
E não sou só eu que a achei boa, o site Brejas.com.br lhe dá uma nota 2,4 (de um máximo de 5,0) de avaliação geral, a mesma nota que concede à Bohemia. E o inusitado site - descobri-o ontem - Cerveja Bosta, muito mais ao meu estilo, falando muito mais a minha língua, que não dá conceitos numéricos às cervejas analisadas, mas as classifica simplesmente em Cerveja Boa, ou Cerveja Bosta, carimbou-lhe a primeira opção.
Mas o mais importante : o equilíbrio cósmico foi reestabelecido; a Faxe, só um desprezível ponto fora da reta. A Realidade e o Multiverso podem dormir tranquilos. O Azarão voltou às boas e baratas. Ainda não será desta feita que uma onda de antimatéria nos varrerá.

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8 Comentários

  1. Ao ler o início do texto, cheguei a pensar que o nobre azarão estava a passar uns dias aqui por Recife, pelo modo como descreveu a sua Ribeirão Preto e o povão; Aqui é tão horrível quanto (ou mais...).

    Uma coisa que noto nos seus textos sobre brejas boas e baratas, é que por aí a variedade é muito maior que por cá; são poucos e raros pontos que vendem cervejas assim. As grandes companhias dominam com folga por aqui. Para você ter uma ideia, a Itaipava (cincão o litro) desbancou a Schin na preferência do povão.

    Abraço, mestre!

    Cássio - Recife/PE

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    1. Curioso você ter visto a sua Recife na minha Ribeirão. Tenho uma amiga, professora de Física, que leciona na mesma escola que eu, que é natural de Sergipe e ela diz que quando vai ao centro de Ribeirão, se sente em casa.
      A variedade por aqui não é assim tão grande, ou tão maior do que acredito ser por aí; nos grandes mercados, também domina a AMBEV, as boas e baratas se encontram em estabelecimentos mais periféricos, mais populares. É um trabalho de garimpagem, meu caro.
      Abraço.

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    2. em tempo : gosto bastante da Schin; também das sumidas Belco e Cintra.

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    3. Em tempo, quem sou eu para criticar o próximo, se eu mesmo comecei a carreira em grande estilo com a Polar (a paraguaia, não aquela do Rio Grande do Sul).

      Já degustei (ou desgostei) dessas todas: Cintra, Schin, Kaiser, Glacial... só não peguei os áureos tempos da "Malt Nojenta". Só me tornei menos pedreiro de uns cinco anos para cá.

      Enfim, em tempos de Heineken a quase R$4,00 a lata, é memorável o esforço de encontrar novos mercados. Se um dia encontrá-la por aqui, vou me dar o benefício da dúvida.

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  2. Sabe de nada, marreta. Na rede Dia de supermercados existe a cerveja Rio Claro, por míseros R$ 1,39. Essa é sim a cerveja que lhe cai bem, a cerveja dos miseráveis, dos sovinas, dos egoístas.

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    1. E quem te disse que eu não conheço a Rio Claro? Sim, o preço é este mesmo R$ 1,39. Uma delícia!!!!

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  3. Seus dias de bebidas baratas estão contados
    https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2020/01/governo-quer-criar-imposto-do-pecado-sobre-cigarro-alcool-e-doces-diz-guedes-em-davos.shtml

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    1. Pãããããããta que o pariu!!!!
      Se isso realmente acontecer, Bolsonaro sofrerá impeachment!!!
      E uma vez que o imposto é sobre o pecado, será que os preservativos, as famosas capas de rola, também serão taxados? Claro que isto não afetará o seu bolso, afinal, quem paga as camisinhas que você usa são os machos que te comem.

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