Será mesmo
A necessidade
A mãe (solteira) da invenção?
Há não muito tempo,
Não tinha a menor necessidade de ti :
Sequer te supunhas.
Até que
Te inventaste para mim,
Entraste roda
E roliça
Em meu mundo quadrado,
Entraste alfarrábio e biblioteca
Em minha pinacoteca rupestre.
Chegada a data da tua obsolescência programada
(por ti e a mim não comunicada)
Negaste-me a tua atualização,
O teu upgrade.
Eu,
Outrora bactéria sóbria e anaeróbia,
Como sobreviverei à falta e à abstinência
Do oxigênio a que me apresentaste?
Que me fizeste tomar aos litros
Inalar carreiras dele pelas ventas
E injetá-lo nas veias?
Como voltar a fermentar feliz pelo lodo primordial?
Eu,
Outrora gutural e ágrafo,
Como poderei
Continuar a escrever para te mentir e agradar?
Como poderei clamar pelo teu nome em meus gozos,
Gritar por ti em meus pesadelos?
Como enviar-te correios elegantes por pombos-correio poliglotas?
Se te foragiste,
Se desertaste,
Oh, letra jocosa,
Em arbitrária reforma ortográfica,
De meu alfabeto?
Se,
Com teu abandono,
Tornaste mancos, disléxicos e brochas
Meus dicionários e minha gramática?
Como voltar a viver
Num mundo puramente de sons,
Agora que os sei
Meros reflexos distorcidos e embaçados da tua palavra?
4 Comentários
Este poema ficou lindo, espetacular! Matou a pau! Espero apenas que o drama nele desenhado seja apenas uma manifestação brilhante de uma realidade alternativa. Aliás, nem precisa responder, óbvio. Mas que ficou bacana demais, ficou. Parabéns!
ResponderExcluirUsarei e abusarei do direito de não responder que me concedeu.
ExcluirE todas as realidades não são alternativas, ainda que muitas vezes não nos sejam uma alternativa?
Ótimo, maravilhoso.
ResponderExcluirAgora, como professor de biologia, faça um poema que retrate a contaminação das praias nordestinas pelo óleo do petróleo e a consequente contaminação dos ecossistemas marinhos.
Quem é professor aqui?
ExcluirE eu quero que o ecossistema se foda!!!
Junto com você!!!