O Horário de Verão e os Semianalfabetos do ENEM

Nesta semana, por conta de alguns inusitados e muito bem-vindos comentários anônimos e um do Cássio, do Recife, na postagem 13 ou 17? Que escola você quer para o seu filho?, foi exposto e discutido aqui um rápido, restrito e superficial - um trailer, por assim dizer, uma amostra grátis -, porém, não menos terrível e aterrador, vislumbre da falência do ensino público brasileiro.
Falência, esta, que não foi, como muitos podem pensar, uma fatalidade. Falência, sim, um projeto muito bem engendrado politicamente, iniciado lá em meados da década de 1990 com o aval neoliberal do senhor Fernando Henrique Cardoso, implantado e intensificado ao longo de seus dois mandatos e, mais ainda feito em máquina de clonar jumentos eleitores do Lula, nos quatro subsequentes mandatos petistas.
São mais de duas décadas de um longo e paciente esforço governamental para criar uma legião de anafalbetos diplomados. Mais de duas décadas de um lento solapar, que, por fim, fez ruir os alicerces e a estrutura da educação, jogou a casa abaixo. Não dá pra aproveitar nem pra entulho.
Solapar, este, que começou tímido, infectou as séries iniciais do ensino fundamental, foi galgando, geração a geração, os ciclos seguintes e, hoje, vinte e tantos anos depois, sobremaneira via cotas sociais, raciais e outros facilitamentos, atinge também o ensino público superior - nossa última reserva intelectual (vide comentário de um professor universitário e pesquisador na postagem 13 ou 17?). O menino entra com 6, 7 anos na escola pública, vai sendo empurrado de série em série, conclui o ensino médio mal sabendo escrever e ganha de presente uma vaga numa universidade pública.
Trago, agora, o assunto do semianalfabetismo institucional de volta à tona, por causa de uma reportagem que li sobre o porquê da transferência da data em que passará a vigorar o horário de verão 2018, do dia 04/11 para o dia 18/11. Aliás, trago o assunto de volta à tona porra nenhuma, ele nunca deixou a superfície, dadas a sua natureza e a sua composição, ele nunca imergiu, bem sabido que é o fato de que merda não afunda.
O adiamento foi feito a pedido do MEC. O nosso valoroso Ministério da Educação e Cultura alegou preocupação com o fato de que a data original do início do horário de verão coincidiria com o dia da primeira prova do ENEM, e os "estudantes" poderiam se confundir com a dificílima tarefa de aplicar a equação de conversão do horário normal para o horário de verão, que consiste em somar uma hora ao horário convencional, e, assim, perderem a hora da prova.
Pããããããããta que o pariu!!!! O nobre apedeuta vai realizar um prova de aferição do conhecimento de toda a sua vida escolar, de 12 anos de sala de aula, e, logo de cara, confronta-se com uma questão digna das melhores e mais difícieis provas do ITA : como somar uma hora ao horário antigo e chegar antes dos portões do ENEM fecharem? 
Preocupação exagerada do MEC? Não. O MEC conhece muito bem o gado que ele tange, o gado que ele mesmo engordou e criou. Sabe que inúmeros e incontáveis casos de atraso por conta da confusão da hora adicional iriam pulular país afora. Eu já acho que o adiamento não deveria ter sido concedido, o horário de verão deveria ter sido deixado, adrede, no dia planejado originalmente. Já seria uma bela duma triagem, já eliminaria uns tantos quantos idiotas da competição.
Pelas tortas e esburacadas vias de associação do meu cérebro, este caso me lembrou de um outro, acontecido comigo em relação à operadora de tv a cabo, telefone e internet que eu contrato. Durante uns dois anos, acredito, o modem com as luzinhas verdes sinalizadoras dos sinais de tv, telefone e internet podia ser desligado ao término de seu uso; na verdade, posto em modo de espera, o famoso stand by, ficava acesa apenas uma luzinha laranja. Pois bem. Um dia, apertei o botão para colocá-lo em stand by  e tudo continuou aceso. Apertei várias vezes o botão, supondo algum mau contato. Foi inútil. Liguei para o serviço de atendimento e fui informado de que o modo stand by fora desativado pela operadora, que, doravante, todas as luzes ficariam acesas. Perguntei a razão. Acontecia, informou-me a moça, que as pessoas punham o aparelho em stand by e esqueciam de religá-lo quando iam fazer uso de algum serviço, e daí choviam ligações no call center da operadora com queixas de que o modem estava com defeito, que tinha queimado. Eram tantas reclamações nesse sentido que as linhas ficavam ocupadas e impediam o atendimento a casos mais sérios. Resultado : a operadora acabou com o stand by simplesmente porque o asno do assinante não conseguia formular a hipótese, a possibilidade : será que se eu ligar o modem, a tv volta a funcionar?
Êêêê, brasilzinho de merda!!!
No que me cabe, não gosto nem desgosto do Horário de verão, já o Horário da Verão, da cerveja Itaipava, eu apoio, incondicionalmente.

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8 Comentários

  1. "O mec conhece muito bem o gado que ele tange, o gado que ele mesmo engordou e criou"
    mataste a pau mais uma vez, azarão. Mais preciso que isso, só as canetadas de Sérgio Moro. Triste ver que todos estamos no mesmo balaio de gatos...

    Valeu a citaçao no início do texto. Bom fim de semana e que domingo comece a ressaca desta petezada e puxadinhos.

    Cássio - Recife/PE.

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    1. Bom fim de semana pra você também, meu caro. Hoje, já tinha uma meia dúzia de professores "comunistas" lá na escola soltando fogo pelas ventas, babando de raiva por causa das crescentes estatísticas do Bolsonaro, todos fazendo campanha contra, todos postando impropérios em seus iphones, em seus facebook... bem comunistas mesmo.

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  2. Gosta também da Manuela D'ávila?
    Em 1989 as mulheres votaram em Collor por causa de seus olhos azuis; agora é a vez dos homens votarem na candidata mais linda a vice presidente: Manuela D'ávila

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    1. As pessoas confundem as coisas, os departamentos. Por exemplo, eu acho o Tiririca engraçado, aí faço o quê, voto nele? Não. Rio dele.
      Também acho a Manuela uma mulher muito da apetecível, aí faço o quê, voto nela? Não. Só comeria, se houvesse a mínima chance.

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  3. Ótimo artigo. E como sempre, eu gargalho sozinho ao ler.

    Agora você disse tudo de uma forma que eu jamais seria capaz de expressar: analfabetos diplomados.

    É essa matéria fecal que chega para mim, caro Azarão. Empurrar essa galera para as universidades custa tão caro para o país
    de uma forma que o reles cidadão sequer imagina.

    Concordo com o Datena: se começássemos a mudar hoje, daqui a 50 anos estaria razoável.

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    1. Sim, se alguém bem-intencionado começasse a realmente querer mudar as coisas a partir de hoje, em 50 anos elas voltariam a ser como eram na minha época (tenho 51 anos). A questão, porém, é que, entra ano, sai ano, e não vemos ninguém disposto a rasgar essa LDB e esse ECA; entra ano e sai ano e todas as resoluções são sempre no sentido de ainda mais piorar a situação.
      Você sabia que, já há algum tempo, a Petrobrás conseguiu na justiça uma exceção para que estrangeiros pudessem concorrer a cargos públicos? Muitos cargos que exigem uma certa especialização nunca eram preenchidos nos concursos públicos. Hoje, existem muitos ingleses e franceses concursados da Petrobrás.
      Abraço

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    2. Que coisa. Dessa eu não sabia.

      Temos a pressão da "política do empurra". Sabe a que custo o governo libertou recursos para o REUNI? Sob a meta de diplomar 90% do gado.

      Isso ainda se manifesta de forma tácita, se damos azar e a desgraça vermelha volta ao poder, Deus tenha piedade de nossas almas.

      O médico mal formado, quando comete um erro num incidente isolado, mata um. O engenheiro, se der sorte, também mata só um.

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    3. Disso, do REUNI, quem não sabia era eu, mas não me surpreendeu. Na escola pública, uma série de verbas destinadas (ou não) às escolas é atrelada ao número de reprovações e evasões, além do tal bônus do professor. Escola que passa todo mundo, tem verba sobrando; a que tenta levar as coisas um pouco mais a série tem dificuldades até para comprar giz e papel higiênico e ainda recebe simpáticas visitas de supervisores para vasculhar tudo, para encontrar pelo em ovo.

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