Exagerado

Imagine as coisas que eu escreveria 
Se realmente penasse 
As agruras que digo que sinto. 

Imagine os horrores descritos 
Se em verdade sangrasse 
As feridas que em mim maquio. 

Imagine as barbaridades que de minha pena estuporariam 
Caso, de fato, me acercassem 
Todas as desgraças e azares que invento. 

Imagine as temeridades que abortariam de minha esferográfica 
Se a cólica de rins tão alardeada 
Não fosse, enfim, somente unha podre e encravada. 

Imagine as atrocidades que minha caneta cometeria 
Se o que eu sofro não fosse somente o que eu minto 
Se em vez dessa pálida vodka de mercearia 
Eu dispusesse da verde aurora boreal do absinto.

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5 Comentários

  1. Estou para dizer que é o melhor poema que já li aqui no blog.

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  2. «O poeta é um fingidor. Finge tão completamente que chega a fingir que é dor a dor que deveras sente.» É isso?

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  3. Surreal, Marreta!

    Somos uma fraude muito bem planejada.

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