O Caralho Maldito

Contou-me Jotabê, o eremita do Blogson Crusoe, que um comentário que começara a tecer em minha postagem sobre a recém-descoberta boiolagem do Príncipe Charles acabou por tomar tamanho vulto e volume que ele optou por transformá-lo em uma postagem independente em seu próprio blog.
Em sua postagem, em um dado momento, Jotabê entrega a rapadura e se refere ao Príncipe Charles, o ex-Duque da Cornualha, agora Princesinha Charlotte, a Gazela Rainha, como Carlinhos. Carlinhos, Jotabê?
Surpreendeu-me a intimidade do diminutivo, porém não o nome em si. Em Portugal, e talvez também em outros países lusófonos, à exceção do Brasil, o Príncipe Charles é conhecido como Príncipe Carlos. O português tem tamanho orgulho de sua língua materna - e com toda a razão, pois é belíssima a última Flor do Lácio - que traduz para o idioma de Camões tudo o que lhe cai nas mãos ou às vistas, inclusive, nomes próprios.
O português é tão avesso e refratário a que estrangeirismos invadam feito hordas bárbaras os seus dicionários quanto nós, brasileiros, somos receptivos e permissivos a que eles em nossos léxicos montem seus assentamentos de MST , sobretudo os anglicismos. O brasileiro adora um estrangeirismo, adora cantar com a língua enrolada a mando do patrão Tio Sam; parece mesmo acreditar que empregar  um vocábulo inglês, quando há tantos mais e mais expressivos correlatos em nosso vernáculo, lhe confere uma maior inteligência, um conhecimento superior, coisa de colonizado, mesmo.
O português, não. O português não arreganha o cu para o estrangeirismo lhe meter a rola. Antes pelo contrário, ele é quem entesa a vara e arromba as pregas do invasor estrangeiro, que irá sentir a dor que deveras sente. Em Portugal, só a citar alguns exemplos, o mouse do computador não é mouse, é rato, mesmo; site é sítio; DNA vira ADN; AIDS vira SIDA, e Charles vira Carlos, Carlinhos para os mais chegados. O que me obriga a um autorreparo do meu texto : Charles, uma vez que Carlos, a quem, depois de reveladas as frouxas pregas, chamei de Princesa Charlotte, torna-se agora a Princesa Carlota. Carlota Joaquina. Só falta deixar crescer o buço. Buço, eu disse buçO.
O português é tão xenófobo no que diz respeito a termos alienígenas que acredito que nem o termo xenófobo ele deve aceitar e usar de bom grado, uma vez que de origem grega (xénos, estrangeiro; phóbos, medo ou aversão). A tudo o português verte para o idioma da santa terrinha. Mesmo que isso o torne motivo de piada, de piada de português.
O genial Juca Chaves, o menestrel maldito, nos conta uma passagem muito ilustrativa a esse respeito, sobre essa quase obsessão portuguesa de a tudo traduzir. A história se passa em fins da década de 1970, quando ainda era costumeiro a indústria mundial do tabaco patrocinar corridas de fórmula 1, e marcas como Marlboro, John Player e Pall Mall estampavam os bólidos e os macacões e os capacetes do pilotos.
Juquinha nos conta que, em uma de suas estadas em Lisboa, calhou de ir com uns amigos a uma corrida de F1 e, logo de cara, notou que até as marcas dos patrocinadores tinham sido traduzidas para o português. Goodyear virou Ano Bom;. Firestone, Fogo na Pedra; e Pall Mall, o caralho maldito!
Pããããããããta que o pariu!!!

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4 Comentários

  1. Muito bom! Ri pra caramba, apesar da rapadura injustamente a mim entregue. Mas, como dizia um amigo, "meus calcanhares estão bem defendidos".
    Esse assunto da língua e sua defesa pelos portugueses rende pano pra manga. Eu não tenho nenhum grilo de usar palavras de outras línguas e já fiz isso um porrilhão de vezes. Como meu vício é tentar fazer ironia com tudo, muitas vezes as utilizo justamente para zoar. Para mim, estrangeirismos são como palavrões: bem usados dão um tempero maior ao texto. Só acho ruim o uso para despistar ou valorizar uma situação que a língua portuguesa reduziria ao seu real significado. Usar sale off”, “fine burguer”, “off price”, "outlet”, "low price" e todo tipo de picaretagem para empurrar o saldo difícil de acabar é pura babaquice e ofensa à inteligência das pessoas. Fazer o que, não é mesmo? Afinal, cada um usa a língua como gosta. JB

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    1. Grande órgão, a língua. Que se presta, inclusive, para falar.

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