Dilma Rousseff está em casa, informa a foto que a mostra no meio dos
convidados muito especiais que baixaram em La Paz, nesta quinta-feira,
para celebrar o início do terceiro mandato de Evo Morales. Depois de
três semanas de sumiço, a presidente reapareceu ao lado do anfitrião na
fila do gargarejo, com o sorriso de aeromoça que exonera a carranca em
momentos festivos. Dilma ressurgiu vestida de Dilma: terninho
verde-brilhoso discordando da calça preta que realça o andar de John
Wayne.
O rosto risonho não rima com o braço erguido e o punho cerrado. No
Brasil, isso é coisa de mensaleiro a caminho da Papuda. Nos grotões
infestados de órfãos da União Soviética, ainda é a saudação dos
revolucionários a caminho do paraíso socialista. O gesto beligerante é
repetido por Morales, pelo equatoriano Rafael Correa e seu terno de
atropelado e por um Nicolau Maduro fantasiado de comunista russo que vai
dinamitar o trem do czar.
Poupada de mais um fiasco em Davos, longe da zona conflagrada por
apagões, inflação em alta, PIB em baixa, tiroteios no saloon governista,
fogo amigo do PT, revelações da Operação Lava Jato, delações premiadas e
delatados em pânico, fora o resto, a supergerente de araque desencarnou
para que Dilma pudesse incorporar a Doutora em Nada. Dispensada por
poucas horas da missão de desgovernar o Brasil, sobrou-lhe tempo para
resolver os problemas do mundo trocando ideias idênticas com o
Lhama-de-Franja e o herdeiro de Hugo Chávez.
Antes que a quermesse terminasse, a trinca feriu de morte o
imperialismo ianque, esmagou o capitalismo predatório, expulsou os
europeus colonialistas, exterminou a elite golpista, prendeu a burguesia
─ e ficou de completar o serviço no próximo encontro. É compreensível
que nenhum dos que aparecem na foto acima tenha dado as caras na imagem
abaixo.
Aparecem
na foto alguns dos governantes de 40 países que neste 11 de janeiro, em
Paris, abriram de braços dados a marcha dos indignados com o ataque
terrorista ao Charlie Hebdo. Como os demais tripulantes do
barco do primitivismo, Dilma está fora do retrato. Enquanto 3,5 milhões
de manifestantes protagonizavam a mais portentosa declaração de amor às
liberdades democráticas, a presidente descansava no Palácio da Alvorada.
O Brasil foi representado pelo embaixador na França.
“Não houve tempo para preparar a viagem”, desconversou o chanceler
oficioso Marco Aurélio Garcia. O governo soube da manifestação na
quinta-feira. Em poucas horas, o avião presidencial teria chegado ao
destino. Pode-se deduzir, portanto, que a ausência que preencheu uma
lacuna não foi determinada pela geografia ou pela duração do voo. Caso a
medida utilizada tenha sido o estágio civilizatório, Dilma fez muito
bem em ficar por aqui. A França é muito longe.
A declaração de guerra ao ao terror ─ o mais perigoso inimigo das
modernas democracias do século 21 ─ é uma perda de tempo para a mulher
que não perde por nada uma reunião dos cucarachas estacionados no século
19. O fundamentalismo islâmico é primo do socialismo bolivariano. Com
Dilma no Planalto, a distância entre Brasília e Paris é de dois séculos.
2 Comentários
Excelente texto! Quando ainda existia a revista "Bundas", o Ziraldo disse uma frase perfeita: "Quem mostra a bunda em Caras, não mostra a cara em Bundas". Fazendo uma releitura (sem nenhum humor) dessa frase, pode-se dizer que os que não mostraram a cara em Paris, mostraram a cara de bunda em La Paz. Vai ver, esse é o motivo verdadeiro: a Dilma só queria um pouco de paz
ResponderExcluirGrande Ziraldo... e perfeita também a sua comparação.
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