Há idiotas de todos os tipos. E, com raríssimas exceções, são motivações religiosas que os impulsionam. Há os que se explodem com coletes cheios de bombas, há os que caminham léguas à exaustão ou trituram meniscos e ligamentos a subirem escadarias de joelhos, há os que se chicoteiam a sangue jorrante e visto, há os que deixam de beber, há os que fazem jejum à desnutrição, há os que se crucificam na semana santa, e outras tantas estupidezes.
E há os que se enforcam. De verdade.
Morreu hoje, na cidade paulista de Itararé, o ator que fez o papel de Judas na representação do circo de horrores que é a Paixão de Cristo.
Segundo familiares, ele ensaiava há seis meses para caguetar o Cristo, e todo o "equipamento" a ser utilizado na cena do enforcamento foi vistoriado pelo corpo de bombeiros, um colete e uma cadeirinha usados por baixo da túnica.
O arrependido Judas subiu numa pedra e saltou, porém, deu merda. Alguma coisa aconteceu - uma intervenção divina com certeza - e um dos cadarços da túnica se enroscou ao colete, provocando um enforcamento real.
O ator ficou pendurado durante quatro minutos, sem se mexer, inconsciente, até que os outros atores percebessem que a representação estava realista demais.
Com hipóxia cerebral grave e prolongada, ele estava internado na UTI desde o dia 06/04, esperando, quem sabe?, por um milagre que o salvasse.
O milagre não veio. Jesus nem se importou. Se só Jesus Salva, não quis salvar o ator.
Acontece, eventualmente, de pessoas promoverem tiroteios e massacres - ou mesmo suícidio - inspiradas por algum livro, filme ou música. Essas obras, que supostamente induziram os doidos, ficam marcadas como malditas, discussões e mais discussões a respeito do poder da mídia sobre as pessoas invadem todos os telejornais e programas de debates da TV, é um prato cheio de merda para psicólogos, pedagogos e sociólogos; muitos desses idiotas tentam imputar a coautoria da desgraça à obra em questão.
Será que alguém vai ter a coragem, agora, de indiciar a bíblia e a igreja católica por homicídio culposo? Porque esse rapaz - fraco das ideias, é verdade - foi condicionado desde pequeno a acreditar e a venerar um livro dos mais absurdos e sanguinolentos; tudo na bíblia é vingança, culpa, genocídio, castigo, sacrifício, flagelação, tem até muita poligamia e incesto.
Será que algum psicólogo, pedagogo, ou algum jornaleco sensacionalista, vão ter a coragem de trazer à baila uma discussão acerca dos prejuízos causados pela bíblia ao bom senso das pessoas?
O pior é que, com certeza, rezarão a Cristo no velório do rapaz, as pessoas prestarão suas condolências à família e recomendarão que busquem força em deus para superar esse momento difícil. E os familiares farão. Passivos e cordeiros, ainda acreditando num deus bom, justo, que "escreve certo por linhas tortas" e cujos "desígnios são insondáveis".
O padre, por sua vez, já vislumbra possibilidades futuras. Logo, o rapaz começa a fazer milagres, a cidade vira mais um dos estúpidos centros de peregrinação e os cofres da igreja serão testemunhas de mais um milagre da multiplicação : de dinheiro e de fanáticos.
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