Marretada No 14-bis (o avião, o grupo é até legalzinho)

Essa marretada é perigosa, atinge um dos baluartes da folclórica "inteligência" brasileira - sacis e mulas-sem-cabeça são mais verossímeis.
Não há uma "inteligência" brasileira, existem alguns brasileiros inteligentes, mas a inteligência como instituição é algo que jamais teremos.
A marretada é no tal Santos Dumont, metido lá com as frescuras francesas, passou a mão na invenção dos irmãos Wright, deu uma voltinha na torre Eiffel, cheio de mise-en-scène e pronto: tornou-se o Pai da Aviação.
Bem coisa de brasileiro, lei de Gérson, levar vantagem em tudo; o Gérson devia ser elevado a santo padroeiro desse país ridiculamente católico. Talvez até eu acendesse uma vela a ele, CERRRRRTO?
Sabiam que o único lugar do mundo onde isso é ensinado é aqui, no Brasil?
Abaixo vai um texto de Diogo Mainardi, um exímio marretador:
O Tio da Aviação
Não, Santos Dumont não é o "Pai da Aviação". Ele está mais para "Tio da Aviação". Ou, segundo certos relatos, "Tio Esquisitão da Aviação".
Santos Dumont é reconhecido - com todo o mérito - como um dos pioneiros da aviação. Os brasileiros nunca se contentaram com isso e decidiram consagrá-lo como o verdadeiro inventor do avião. O maior disseminador dessa idéia foi Henrique Dumont Villares, autor da biografia "Quem deu asas ao homem", publicada em 1953. O livro não se limita a dizer que Santos Dumont foi o verdadeiro inventor do avião. Contrariando todos os fatos comprovados sobre o assunto, ele tenta demonstrar também que os irmãos Wright eram meros farsantes, e que teriam se apropriado malandramente da invenção do brasileiro.
Henrique Dumont Villares não era propriamente uma fonte desinteressada - ele era sobrinho de Santos Dumont. É como se Pato Donald escrevesse uma biografia de Tio Patinhas. Foi através de seu sobrinho que Santos Dumont, o "Tio da Aviação" - ou o "Tio Esquisitão da Aviação -, finalmente se transformou no "Pai da Aviação". Mas isso só aconteceu no Brasil, que acolheu os argumentos de Henrique Dumont Villares e, negando eventos aceitos no mundo inteiro há mais de cem anos, desqualificou unilateralmente a invenção dos irmãos Wright. Aqueles mesmos irmãos Wright que, em 1905, um ano antes que o 14 Bis decolasse por cerca de 60 metros, a dois metros do solo, já eram capazes de voar por mais meia hora, manobrando nos céus de um lado para o outro.
O culto patriótico a Santos Dumont ganhou impulso durante o Estado Novo. Os integralistas faziam romarias ao seu mausoléu. A lei 165, de 1947, atribuiu-lhe o posto de tenente-brigadeiro. A lei 3.636, de 1959, promoveu-o a marechal-do-ar. Santos Dumont foi condecorado com a Legião de Honra, como Gilberto Gil. Ele também foi eleito para a Academia Brasileira de Letras, na cadeira 38, ocupada atualmente por José Sarney. Entre suas principais invenções, estão a escada com degraus em forma de raquete, para que os visitantes fossem obrigados a dar o primeiro passo com o pé direito, e a mesa de jantar com dois metros de altura, incluindo uma plataforma para acomodar o garçom. O crédito por essas invenções nunca foi contestado por ninguém, nem mesmo por aqueles finórios irmãos Wright.
Santos Dumont contribuiu de maneira determinante para o desenvolvimento do avião e tem de ser saudado como o "Tio da Aviação" - ou o "Tio Esquisitão da Aviação". Ele também será eternamente recordado por todos nós, brasileiros, como o verdadeiro e único "Pai da Mesa De Jantar com Dois Metros de Altura (Incluindo Uma Plataforma Para Acomodar O Garçom)".

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