Hoje, por volta das oito da manhã, fui despertado por um som monótono, monocórdio, distante, que foi aproximando-se, som sem emoção, pasteurizado, robotizado, ainda assim saído de gargantas que nasceram para ser humanas. Nasceram, não cumpriram seus desígnios, tornaram-se em zumbis.
Já um pouco mais desperto - e o maléfico som mais perto -, distingui ladainhas religiosas, cânticos e louvores. Não basta o ser humano acreditar que exista um deus, ele ainda o julga um ser do mais absoluto mau-gosto musical; uma manada de vacas tetudas e bois capões seria mais afinada e melódica.
Assustei-me!!!
Será que eu havia morrido em sono e "despertado" no Céu?
Será que eu "viveria" doravante entre imbecis de togas e batas, chatíssimos tocadores de harpa, e beatas de bucetas encarquilhadas feito uvas passas?
Eu, no céu?
Puta que o pariu!!!!
Não imagino um Inferno maior!!!
Não podia aceitar. Sempre fiz de tudo para não merecer o Céu.
Forcei os olhos, concentrei-me, fui desvestindo-me da modorra que se abraçava à ressaca e, no lusco-fusco, vi minha mulher ao lado, ainda ressonando, imune.
Nunca fiquei tão feliz em vê-la ali.
Levantei-me e fui em direção ao som, encontrei minhas duas gatas na sacada, ambas também assustadas e olhando atônitas a rua abaixo. As duas me olhavam como a perguntar o que era aquela porra, juntei-me a elas e deparei-me com uma merda de uma procissão.
"É uma merda de uma procissão.", disse às gatas.
Elas continuaram com seus olhares atônitos, sem entender.
Não fui capaz de lhes dizer mais nada; quem é que entende uma procissão?
Domingo de Ramos, fiquei sabendo depois. E continua significando nada para mim.
A rua parecia tomada por uma enorme e disforme centopeia humana (pois é, centopeia sem acento é uma merda, parece que falta algo, algumas pernas da bichinha, até, mas agora ficou assim), uma gigantesca lacraia humana de passos trôpegos e descompassados, um desfile de mau-gosto .
Liderando a cantoria, passou minutos depois, uma perua Kombi com uns alto-falantes estourados no teto.
Todos portavam folhas de coqueiro nas mãos; nem uma horda de mandruvás teria causado tamanho desfolhamento.
Todos tinham faces de botox, nenhuma expressão, nenhum pensamento lhes passava pelo rosto, apenas a fé castradora, esmagadora, sadomasoquista; a fé amputadora de colhões, costuradora de bucetas.
Minhas gatas me olharam, estavam com semblantes aliviados: perceberam que eu também não entendia aquilo; sorriam com ironia em seus bigodes: se isso é ser "racional", preferimos continuar a limpar nossos cus com a língua, elas me disseram.
Não contrargumentei; elas estavam certíssimas. Como contrargumentar com o básico, com o instinto, com a lógica mais primal?
Se me garantissem que nunca mais iria ouvir falar em deus ou ser importunado pelo conceito dele, eu, de bom grado, me despiria de todo o "progresso" humano e, felicíssimo, também iria lamber meu cu sujo.
A procissão passou e até pensei em reencetar meu sono, mas o estrago já estava feito.
Pus uma generosa dose de ração para as gatas, fiz um café bem forte e fui acordar minha mulher.
Alguém teria que me acompanhar nesse dia tão mal começado.
Já um pouco mais desperto - e o maléfico som mais perto -, distingui ladainhas religiosas, cânticos e louvores. Não basta o ser humano acreditar que exista um deus, ele ainda o julga um ser do mais absoluto mau-gosto musical; uma manada de vacas tetudas e bois capões seria mais afinada e melódica.
Assustei-me!!!
Será que eu havia morrido em sono e "despertado" no Céu?
Será que eu "viveria" doravante entre imbecis de togas e batas, chatíssimos tocadores de harpa, e beatas de bucetas encarquilhadas feito uvas passas?
Eu, no céu?
Puta que o pariu!!!!
Não imagino um Inferno maior!!!
Não podia aceitar. Sempre fiz de tudo para não merecer o Céu.
Forcei os olhos, concentrei-me, fui desvestindo-me da modorra que se abraçava à ressaca e, no lusco-fusco, vi minha mulher ao lado, ainda ressonando, imune.
Nunca fiquei tão feliz em vê-la ali.
Levantei-me e fui em direção ao som, encontrei minhas duas gatas na sacada, ambas também assustadas e olhando atônitas a rua abaixo. As duas me olhavam como a perguntar o que era aquela porra, juntei-me a elas e deparei-me com uma merda de uma procissão.
"É uma merda de uma procissão.", disse às gatas.
Elas continuaram com seus olhares atônitos, sem entender.
Não fui capaz de lhes dizer mais nada; quem é que entende uma procissão?
Domingo de Ramos, fiquei sabendo depois. E continua significando nada para mim.
A rua parecia tomada por uma enorme e disforme centopeia humana (pois é, centopeia sem acento é uma merda, parece que falta algo, algumas pernas da bichinha, até, mas agora ficou assim), uma gigantesca lacraia humana de passos trôpegos e descompassados, um desfile de mau-gosto .
Liderando a cantoria, passou minutos depois, uma perua Kombi com uns alto-falantes estourados no teto.
Todos portavam folhas de coqueiro nas mãos; nem uma horda de mandruvás teria causado tamanho desfolhamento.
Todos tinham faces de botox, nenhuma expressão, nenhum pensamento lhes passava pelo rosto, apenas a fé castradora, esmagadora, sadomasoquista; a fé amputadora de colhões, costuradora de bucetas.
Minhas gatas me olharam, estavam com semblantes aliviados: perceberam que eu também não entendia aquilo; sorriam com ironia em seus bigodes: se isso é ser "racional", preferimos continuar a limpar nossos cus com a língua, elas me disseram.
Não contrargumentei; elas estavam certíssimas. Como contrargumentar com o básico, com o instinto, com a lógica mais primal?
Se me garantissem que nunca mais iria ouvir falar em deus ou ser importunado pelo conceito dele, eu, de bom grado, me despiria de todo o "progresso" humano e, felicíssimo, também iria lamber meu cu sujo.
A procissão passou e até pensei em reencetar meu sono, mas o estrago já estava feito.
Pus uma generosa dose de ração para as gatas, fiz um café bem forte e fui acordar minha mulher.
Alguém teria que me acompanhar nesse dia tão mal começado.
0 Comentários