Narciso de Papel

Não gosto mais de ver meus garranchos no papel.
Meu código Morse indecifrável,
O engodo de minhas tranças de Rapunzel
(vou quebrar meu telégrafo, passar máquina zero na cabeça e lançar-me, suicidar-me do alto de minha torre de marfim).

Não gosto mais de ver meu texto na tela.
Minha dor digitalizada,
Formatada em Arial
E fossilizada em bits e pixels :
Adormecida,
Já não me parece mais tão bela.

Escrever
(percebo isso agora)
É erguer altar, igreja e tribunal em causa própria.
Poesia
É Narciso polindo e mirando-se
No branco do papel,
Se babando por um origami feito à sua deformidade e semelhança.

Escrever
(desiludo-me agora)
É autoadoração e autoflagelo
É libertinagem e celibato
É cornucópia e jejum
É férias na casa da avó e campo de concentração.

Escrever
(horrorizo-me agora)
É homem de meia-idade
- de cabelos brancos de um amarelo crestado e encardido,
de vistas e de ânimos de bengala,
de barriga mole sempre pronta a dar o bote, à menor distração -
Em rídicula e solitária masturbação.

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15 Comentários

  1. "Barriga mole pronta a dar o bote" vou ter que procurar da onde você tirou isso, né possível que não pensei nisso primeiro.
    "J"

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  2. é quiromania sem sentido, sempre foi; mas sei lá, o que não é "ridícula e solitária masturbação"? No fim das contas, é puro hedonismo, cócegas no próprio ego, como quase tudo que se faz...

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  3. É, Marreta, você continua muito inspirado! Muito bom mesmo. Não sei se viu um post recente (mais um) em que divago sobre a minha falta de inspiração. No final, deixei para você uma sugestão, que refaço aqui.
    Você poderia reunir apenas seus contos e poesias em um novo blog. Até sugeri um título: "Contos e Poemas Libertinos" ou “Contos e Poemas Libertinos do Azarão”, uma mistura dos "Contos Libertinos" do Marquês de Sade com os “Poemas religiosos e alguns libertinos”, do Manuel Bandeira.
    Se achar bacana a ideia, deixo claro que fica desobrigado de me pagar royalties por título tão “bem engendrado”. Se não gostou, paciência. Fui.

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    1. Li sua sugestão lá no Blogson, sim, e até ia comentar, mas fiquei com preguiça. Na verdade, quero crer, não é exatamente preguiça, está mais para uma estafa mental. Faço tanto coisa durante o dia que, quando chega a noite e tenho um pequeno tempo, as ideias até aparecerem, mas cadê a coragem de pegar na caneta? Fico sentado vendo qualquer merda na tv e vou dormir. Só do bom e velho Rubens, dos pequenos contos noturnos, tenho ideia para 3 contos, porém, como digo nesse texto, não tenho mais aquele tesão em escrever, não vibro mais vendo a ideia ganhar forma, sei lá.
      As sugestões de nomes são boas, embora indevidamente elogiosa, afinal qualquer referência entre o que escrevo e verdadeiras literaturas como as do Sade e do Bandeira é sacanagem com os caras.
      Além disso, um novo blog? Mal tô conseguindo fazer respirar o Marreta.
      Abraço

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    2. Não precisa e talvez nem deva publicar isto, mas volto a insistir na sugestão de um novo blog pelos seguintes motivos:
      - Você não precisaria criar nada, apenas copiar e colar no novo blog os contos e poemas que já foram divulgados no Marreta. Assim alimentado, o novo blog seria atemporal, pois não estaria atrelado aos temas do cotidiano, seria um blog literalmente literário;
      - Provavelmente ficaria livre do carimbo de “blog adulto”, pois o próprio título (qualquer que fosse ele) já indicaria suas características. Ninguém entraria nele “enganado”, pois você poderia (se quisesse) colocar as fotos cabeludas e cheias de cabelos que gosta de utilizar no Marreta para ilustrar algum conto ou poema.
      - Daria a seus leitores a oportunidade de (re)ler sua produção mais antiga sem precisar pesquisar no Marreta, já que os contos e poemas iriam sendo divulgados tranquilamente, no ritmo que desejasse.
      - Você teria uma obra literária indiscutível, livre dos penduricalhos políticos, ideológicos ou religiosos onde, aliás, você manda super bem.
      Estou falando tudo isso pois tenho pensado em fazer a mesma coisa (mas não mais em um blog). O que tem me incomodado é a (má) qualidade da maioria dos posts que tenho relido no Blogson. Tenho achado tudo de uma indigência desgraçada, coisas muito ingênuas, forçadas, humor de grupo escolar.
      Mesmo assim, talvez pela minha carência afetiva congênita e pela sensação de que não viverei muito mais, gostaria de deixar alguma coisa mais organizada e que me desse prazer de ler e dizer “pô, até que ficou legal isso aqui!”, para que um dia, algumas pessoas (meus filhos e alguns amigos) pudessem ler e lembrar-se de mim com carinho. Claro, poderiam ler direto no blog, mas teriam que desbastar e roçar o mato. É isso. Não precisa responder, apenas reflita sobre isso.

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    3. Azarão, você está precisando levar uma surra de buceta, mas uma surra bem dada, aí você engrena novamente
      FERNANDÃO

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    4. Nem preciso refletir, JB, e já te respondo : Nâo! De jeito nenhum!
      Quer que eu corte meus penduricalhos? Vasectomia até estou pensando em fazer, mas cortar os penduricalhos, jamais.

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    5. Eu usei "penduricalhos" como sinônimo de posts com data de vencimento, específicos de determinado momento no país. Não sou censor de porra nenhuma nem quero ser. A sugestão era para criar um blog exclusivamente "literário" (com todas as imagens que os ilustrassem). Mais um blog, não a extinção do Marreta. No meu caso, por exemplo, os posts "Comentando as..." não seriam considerados em um "Blogson II", pois são específicos e têm data de validade curtíssima. Era isso que eu estava dizendo ou tentando dizer.

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  4. Nem preciso dizer qual conselho acho que deve seguir né?! Fernandão, meu filho, nós temos que conversar sobre isso
    "J".

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  5. Não se engane meu nobre amigo.....eu jamais lhe daria um conselho desse tipo, eu o levaria para um passeio na Brasil e mandaria vc escolher....

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  6. Sempre, afinal já dizia o sábio Luizão..... caixão não tem gaveta meu filho.

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    1. Rapaz, ou você não entendeu, ou está a se fazer de desentendido : eu perguntei se com tudo pago por você! Você paga e eu como!
      E grande ditado do Luizão, esse eu não conhecia. Nem a milenar cultura chinesa o equipara. Nem Confúcio. Grande Luizão!

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