Outrora FM - A Inauguração - 4 de março de 2011

A Outrora FM nunca existiu : nem no universo "real" do Big Bang nem no virtual de Jobs e Gates. Sem que isso seja obstáculo, ela nunca acabará ou cessará suas transmissões.
A Outrora FM - eu que fui rato de FMs na década de 80 - é a minha estação ideal, uma rádio que só executa músicas de meu agrado. Suas ondas não se propagam pelo espaço etéreo, fazem sintonia e ressonância apenas dentro da caixa acústica de minha pequena cabeça e entra no ar esporadicamente, tão-somente em dias de aguda nostalgia, como ontem.
Seu acervo musical - nunca antes as havia contado, contei-as ontem - se compõe de 41 fitas cassetes (K7), prevalentemente da marca BASF, a boa e velha BASF, com 60 minutos de duração cada uma, o que equivale a uma média de 15 a 20 músicas por fita; lembrei que possuo umas poucas de 90 minutos, evitávamos comprá-las, havia a lenda de que elas forçariam o motor do gravador, vista a maior quantidade e peso de fita contida nelas.
Grudadas magneticamente a cada átomo de ferro dessas fitas, estão músicas das mais variadas vertentes, sem nenhum tipo de ordenação, seja alfabética, por gênero, por ano, por cantor ou banda. Acaba um Chico Buarque e muito bem pode vir um Ultraje a Rigor, seguido por um Dick Farney encavalado a um Língua de Trapo, Premeditando o Breque ou Joelho de Porco, Léo Jaime, RPM, Blitz, Zé Ramalho.
Músicas pinçadas e gravadas em tardes e mais tardes de árduo e laborioso garimpo pelas rádios da época. Dinheiro para os LPs, raramente havia, tínhamos que gravar das rádios, os nossos downloads da época. Eu ficava lá a postos, de tocaia, fita no gravador, teclas "play", "rec" e "pause" baixadas, ouvidos e dedo de prontidão, e uma enorme paciência para esperar a presa, esperar a rádio tocar a música desejada. Tínha de ser rápidos no gatilho, tinha que reconhecer a música em seus iniciais acordes e destravar a tecla "pause". Se o reconhecimento da melodia demorasse muito, parte significativa da canção era perdida, não compensava mais gravá-la, era um peixe que tinha fugido do anzol. Acontecia também, às vezes, de tudo estar caminhando nos conformes, a música reconhecida de imediato, a tecla "pause" destravada e a fita girando macia nos cabeçotes do gravador...aí o filho da puta do locutor falava alguma merda no meio, geralmente soltava a vinheta da emissora. Pronto! Mais um peixe fora do anzol, mais uma gravação a ser descartada. Daí, era voltar a fita para o ponto exato e, de novo, esperar.
Quarenta e uma fitas K7 construídas dessa maneira. Um trabalho meticuloso, do tipo que, hoje, não sou mais capaz; por falta de paciência, de vontade, por falta dos meus 15 anos.
A Outrora FM, a partir de já, ganhará novo espaço. Não mais restrita às minhas gavetas e circunvoluções, ela frequentará esse blog, frequentemente, megaherticamente. De ciclos em ciclos, escolherei uma canção das 41 fitas e postarei sua letra aqui.
Como um bom locutor de FM, eu também atenderei a pedidos, desde que constem de meus acervos.
Peçam, arrisquem-se.

Postar um comentário

0 Comentários