Cerveja-Feira (80)

Desafortunadamente, e creio que de modo irreversível, salvo alguma catástrofe planetária, o mundo globalizou. Virou tudo uma só mixórdia. Um amálgama cinza, pardacento e malcheiroso.
Desgraçadamente, via um processo correlato, no Brasil, a cerveja ambevizou! Virou tudo uma borra de milho só. Se você rodar o país inteiro, do Acre ao Rio Grande do Sul, encontrará, basicamente, as mesmas marcas nas prateleiras e gôndolas dos mercados, botecos, armazéns etc.
E o pior : tal hegemonia impede que marcas nanicas de cerveja, rótulos mais regionais, finquem suas bandeiras no mercado. Dizima com a biodiversidade cervejeira.
 
Interessado que sou por cervejas boas e baratas e, preferencialmente, pouco conhecidas e divulgadas pela grande mídia, sempre que viajo, percorro pequenos mercados e botecos pés-sujos à cata de alguma novidade. Périplo que, nos últimos tempos, tem se mostrado dos mais estéreis e infrutíferos. 
 
Quando vou para a casa da sogra, em Passos (MG), faço minha ronda e romaria por pequenos estabelecimentos, e nada tenho encontrado que não seja o que também há por aqui, é só Skol, Antartica, Brahma, Kaiser... tudo mais do mesmo. Tudo ambevizado.
 
Neste último feriado, viajamos para uma pequena cidade de montanha, Monte Verde, Serra da Mantiqueira mineira. Creio que tenha sido a terceira viagem nossa a esse destino; a anterior, antes da pandemia chinesa.
Agora, pensei eu, volto de lá com uma nova e desconhecida boa e barata. Sabia que, claro, não encontraria uma raridade dentro do circuito da cidade destinado aos turistas, apostei, porém, em pequenos mercados e vendinhas em bairros mais afastados. Nada. Porra nenhuma. Parecia que eu estava no mercado aqui perto de casa.
 
Aliás, apesar de gostar muito de Monte Verde, de me sentir muito bem por lá, é quase certo que não mais retorne às suas verdes e frias plagas. Relativamente acessível que era até minha última estada, hoje a cidade está a praticar preços impraticáveis. O que já não era barato, tornou-se brutalmente oneroso. Impiedoso, até.
 
A exemplo, há três morros na cidade com trilhas para subida, respectivamente, por grau crescente de dificuldade, o Chapéu do Bispo, o Platô e a Pedra Redonda. Era um bom passeio. Subíamos pelas picadas rodeadas da vegetação típica da Serra da Mantiqueira - samambaias, orquídeas, bromélias, musgos - e, chegando ao topo, tínhamos uma bela e ampla visão da cadeia montanhosa. Pois agora, se quiser subir ao Platô, ao Chapéu do Bispo ou à Pedra Redonda, tem que pagar, caralho! Quarenta e tantos reais! Quase cinquenta contos para subir a montanha; antes, atividade gratuita. Ou seja, o morro vai ficar lá meus amigos. Só se eu fosse louco, pagar cinquentão pra subir morro.
 
Mais : havia dois ou três parques públicos abertos à gratuita visitação. Bela vegetação, pequenos regatos cortando o terreno, lojas de artesanato, lanchonetes, restaurantes e bistrôs. Dávamos um passeio, sentávamos a alguma mesa, tomávamos umas e outras, beliscávamos alguma coisa. Ou seja, consumíamos. Pois agora, cobram sessenta reais para o ingresso. Por cabeça. Sessenta contos só pra entrar em um lugar que é público. Eu, esposa e filho, deixaríamos quase duzentão só para atravessar o seu portão. Ora, vá tomar no cu.
Mas, enfim, voltando à vaca fria, não encontrei nenhuma nova boa e barata. Tá tudo ambevizado.
 
Porém, felizmente, ainda existe certa resistência à ambevização no país, nem tudo está perdido. Há grupos cervejeiros que, feito a pequena Ucrânia, opõem-se à soviética Ambev. Verdadeiros arraiais de Canudos cervejeiros.
 
O principal quartel-general da resistência é a cidade de Petrópolis, região serrana do Rio de Janeiro. Há, por lá, a Cervejaria Cidade Imperial, da família Orleans e Bragança, cujo carro-chefe é a cerveja Império. Ainda, na mesma abençoada cidade, nesta Terra Santa cervejeira, há o Grupo Petrópolis, de cujas caldeiras brota o maná das cervejas Itaipava, Petra, Black Princess, e a minha, quase de todos os dias, a cerveja Lokal.
Também a Casa Di Conti, sediada no município paulista de Cândido Mota, fabricante, dentre outras, da Conti, da Burguesa e da Moinho Real.

Igualmente, de uns tempos para cá, de forma insuspeita, em Mato Grosso do Sul, um outro front de resistência à ambevização está a se desenvolver, o Grupo RFK. De forma ainda tímida, vagarosa, mas consistente. Fabricante da meia-boca Moema e dessa que é o mote desta postagem e que agora lhes apresento, a Bamboa.


Uma grata surpresa proporcionada a mim pelo Universo, ontem, quando de minha caminhada matinal de todos os sábados, na rede Sewall de postos de combustíveis. R$ 2,39, a lata de 350 ml. Cerveja caprichada. Três tipos de lúpulo e dois de malte.
 
Mas, sem um pingo de vergonha na cara e fazendo meu próprio merchan, se quiserem saber mais da Bamboa, é só clicarem na imagem abaixo e serem redirecionados ao meu canal no You Tube, As Boas e Baratas do Azarão.
Saúde!
E que se foda a Ambev.

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6 Comentários

  1. Bom que ainda existe certa resistência cervejeira contra a ambevização.

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  2. Puta merda! Balboa com bem boa virou Bamboa! Isso lá é nome que se apresente? Mas o que eu quero é te dizer que a coisa aqui tá preta. Não, não é isso (está preta sim), minha sugestão é que você comece a fabricar sua própria cerveja. Talvez você diga que não tem espaço ou coisa assim, mas pense na atividade "lúdica", relaxante, terapeutica de fabricar sua breja, nem que seja na casa de seu primo ou alguém com quem goste de conversar e falar mal do Lula (estou de saco cheio desse idiota!). EStou falando sério! Um conhecido de um de meus filhos fabrica a dele e até mandou duas garrafinhas para minha mulher (ela gosta de cerveja!). Não me lembro da avaliação que ela fez, só me lembro que não tinha a transparência das cervejas normais, era meio turva, com jeitão de mijo velho (imagem que busquei das minhas experiências de químico infantil). E será bem legal ler um artigo onde contará os detalhes e cuidados que melhorarão o sabor da cerva nossa de cada dia. Esta sugestão é inspirada no meu desejo de fazer alguma coisa com as mãos (não, não é punheta), talvez pães e roscas, coisas assim. Manda ver! Um abraço.

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  3. Faz uns oito anos que fui a Monte Verde. Até pensei em voltar lá esse ano, pesquisei preços de pousadas e hotéis, mas no centro a diária estava por volta dos 400 paus. Se na época gastei fora o combustível mais de 1k na viagem, imagine hoje.

    Lembro de fazer um passeio com guia, pois não queria enfiar o carro no meio daquela terra. É pitoresco, mas não tem muito para fazer por lá. E agora, tem um restaurante super badalado, que ganhou uma premiação internacional. Tudo contribuindo para encarecer a empreitada.

    E como estão os preços da Fritz? Na época, trouxe umas cervejas, mas acabei não tomando os chopps para levar a caneca.

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    1. A Fritz ainda mantém um certo bom senso e respeito.pelos clientes. O chopp de 500 ml estava saindo entre 18,90 a 26,90, a depender do tipo. Tomei dois bons Bocks a 19,90 cada. Por outro lado, a parte sólida do cardápio estava abusiva. Ainda bem que não preciso comer.

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