Uma galeria de troféus
É um mostruário
É um portfólio
Mas não só.
Não só
E muito mais que isso :
É
Antes de tudo
De forma velada, subliminar
Não obstante explícita
Um extenso catálogo de fracassos e de frustrações.
Fracassos e frustrações
Dos que não ganharam os troféus
Ali
Narcisicamente expostos.
Mais
Muito mais que o êxito de um
Uma galeria de troféus
Exibe o malogro de milhares.
Uma galeria de troféus
É um recado
É um lembrete
De que nem todos são bons
Capazes, excelentes.
De que nem todos podem ser bons
De que ninguém pode ser o que quiser,
Por mais que se esforce e se dedique.
Um lembrete
De que todos só podem ser o que nasceram para ser
Ou dotados para.
Uma galeria de troféus
É um lembrete
De que esforço nada tem a ver
Com merecimento.
Uma galeria de troféus
Exibe a esmagadora e cabal vitória
Da genética e da evolução
Sobre qualquer tipo de behaviorismo.
(Se todos querem e podem e se esforçam por que apenas poucos conseguem?)
Toda galeria de troféus
É um altar erigido a Darwin
(e vejo o velho e sempre incompreendido inglês a rolar de rir em sua tumba; junto a ele, Gobineau e Lombroso; mal vejo a hora de lhes fazer companhia, e esfalfarmo-nos de rir dos psicólogos, sociólogos, pedagogos e outros embusteiros).
A ideia original da ilustração é do cartunista Laerte. Como não achei a charge original, descrevi a ideia e a IA, gentilmente, a reproduziu para mim.
3 Comentários
Olhaí, Marreta, olha eu aqui de novo. Concordo com você, o pódio é só para quem pode. Quanto aos figurões citados, estou pior que o Zeca Pagonhinho em relação ao Gobineau: Nunca vi, não provei e NEM ouço falar. Agora, comparar ou ombrear o Darwin com o Lombroso é sacanagem, pois já detonaram a teoria lombrosiana há muito tempo. E com razão!
ResponderExcluirCom razão? Com que tipo de razão? Com a de um mundo que se propõe a discutir bebês reborn?
ExcluirTenho o livro do Lombroso, o li três vezes, e ele não é tão descabido quanto dizem.Pelo contrário.
Não estou interessado em polêmicas intermináveis nem em bancar o gato mestre. Você é indiscutivelmente um cara mais culto que eu, que sempre li por ler, só para passar o tempo, sem me preocupar em memorizar nada nem nada refletir. Conheço o Lombroso há décadas, mas sempre na base da cultura de orelha de livro, só na superfície. Por isso, apenas transcrevo o comentário a seguir, que achei muito curioso. Mas não precisa publicar esta tréplica.
ExcluirLombroso foi uma daquelas almas penadas da segunda metade do século 19, no período imediatamente posterior à publicação de “A Origem das Espécies”, que imaginaram que a Teoria da Evolução sancionava “cientificamente” seus preconceitos racistas e sexistas. A antropologia lombrosiana pressupunha uma hierarquia moral na evolução da vida terrestre, com os animais e os fenótipos humanos não-europeus nos degraus inferiores de uma escada que culminava, claro, no homem branco de fraque e gravata.
Os “estigmas lombrosianos”, de modo muito pouco surpreendente, confundiam-se com características físicas comuns nas raças “selvagens” e “inferiores” da África, Ásia e das Américas e, quando a musa da má poesia tocava o espírito do Dr. Cesare, também de animais não-humanos: caninos proeminentes seriam, por exemplo, sinal de afinidade evolutiva com ratos.