É a Podridão, Meu Velho (20)

- O que procuras, velho?
Me pergunta a Madrugada,
Me tirando do semissono,
Do cochilar na cadeira em minha sacada,
Quase me fazendo derrubar a caneca de cerveja.
- Procuro ver uma estrela cadente, há tempos que não vejo tais vagalumes siderais.
- Mentira, velho!
Diz a Madrugada.
- Procuro por inspiração, ideias para um novo texto, um novo conto, um novo poema... para mudar de profissão.
- Mentira, velho!
- Procuro a tranquilidade e a clareza da falta de luz, o ronronar dos decibéis, o trânsito sem buzinas e semáforos dos gatos vadios.
- Mentira, velho!
- O que procuro, me dizes, pois?
- Não procuras por cometas, por ovnis, por embriões de livros, por novos rumos nem pelo sorriso dos gatos de Alice.
- Procuro pelo quê, então, já que és tão sábia e cheia de si?
- Procuras, velho, por uma nova paixão!
- E se for? E caso seja?
- Vá dormir, velho! Não perca o seu tempo, que é tão pouco; nem o meu, que é infinito.

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