Todo Castigo Pra Corno é Pouco (32)

Ele é o patrono das mulheres da difícil vida fácil. É o santo padroeiro e protetor das profissionais dos serviços sem nota. E, também, é claro, é corno : Odair José.
Década de 1970 : assim como as de muitos outros artistas populares, a imprensa vigente, que, hoje é patente, sempre teve um cunho canalho-esquerdista, classificou a obra de Odair José de cafona, de subcultura.
Eram tempos, também, de grandes compositores, grandes compositores de - hoje, sabemos - pequenos caráteres; em suma, toda aquela turma que sempre vencia os Festivais da Record, os inteligentinhos da época, os engajados politicamente. Até porque é muito fácil ser engajado, ficar militando pra cima e pra baixo, quando se nasce em berço de ouro, quando não se tem que trabalhar de sol a sol para garantir o sustento, como era o caso de Odair José, Aguinaldo Timóteo, Waldick Soriano e outros
O fato de alguns desses verdadeiros gênios da música serem de esquerda dava base ao silogismo safado de que todo esquerdista era, igualmente, um gênio (o Chico é gênio (verdade absoluta), o Chico é de esquerda (uma verdade, talvez, conveniente), logo, todo mundo de esquerda é gênio (uma falácia da porra)). Dava o aval que a tendenciosa imprensa precisava para banir Odair José e os cafonas do panteão da MPB, colocá-los na casta de párias, de intocáveis, literalmente.
(Recomendo fortemente a leitura livro "Eu Não Sou Cachorro, Não", do historiador Paulo César de Araújo, o mesmo da polêmica biografia não-autorizado do Rei).
Hoje, porém, com vistas aos atuais queridinhos da mídia, aos atuais incensados pelos inteligentinhos, pelos antenados e pelos membros maconheiros dos diretórios acadêmicos dos abomináveis cursos de "humanas", Odair José é um verdadeiro erudito. Um iluminista. Com vistas aos sertanejos universitários, aos raps e aos Rappas, aos MCs e aos Emicidas, Odair José é um poeta de primeira grandeza. Um Vinícius de Moraes do baixo meretrício.
Verdadeiramente, um poeta do povo. Muito mais socialista, ainda que involuntária e inconscientemente, que Chico e sua gangue, com muito mais consciência social. Quem cantou as agruras do desvalido, do desdentado, do engraxate, do feirante, do biscateiro e, sobretudo, das putas, numa época em que puta era mesmo puta e não "modelo e atriz"? João Gilberto? Tom Jobim? O mano Caetano? Porra nenhuma. Odair José.
E o velho bardo da Praça Tiradentes continua a pleno vigor. No CD "A Praça Tiradentes", produzido por Zeca Baleiro e lançado em 2012, Odair José nos mostra que ainda tem muita lenha pra queimar, que o lobo perde o pelo mas não perde o vício.
No CD, Odair José reafirma o seu afeto e sua predileção pelas putas e, consequentemente, abraça mais uma vez a sua condição de corno. Manso e assumido. Na canção "E depois volte pra mim", feita em parceria com Zeca Baleiro e, rezam as lendas, composta em homenagem à Bruna Surfistinha, o corno está ligado que sua namorada entrega marmita pra fora, apesar de todos os subterfúgios e desculpas esfarrapadas usados pela moça para esconder seu verdadeiro ofício - "pra todo mundo, ela diz que é modelo e atriz, mas hoje eu sei na verdade o que ela faz, quando me telefona pra dizer que não vem mais". Compreensivo e solidário, o corno resolve aliviar o fardo e a culpa da puta e abre o jogo : "não precisa mais mentir, quero você mesmo assim, diga sempre que me ama, vá fazer o seu programa e depois volte pra mim". Pããããããta que o pariu!!!
Grande Odair José. Um exemplo de corno a ser seguido!
Recomendo, também, a audição do cd A Praça Tiradentes. Bom pra caralho.
E Depois Volte Pra Mim
(Odair José/Zeca Baleiro)
Quando eu a conheci,
Num programa de tv, 
Ela se aproximou e falou, muito prazer, 
Por seu riso de menina, me apaixonei no ato, 
Fiquei tonto, sem razão, me encantei com seu teatro.
Os amigos me falavam, mas a ficha não caia, 
Fiquei perdido de amor, 
Todos viam o que eu nao via.

Pra todo mundo, ela diz que é modelo e atriz, 
Mas hoje eu sei na verdade o que ela faz, 
Quando me telefona pra dizer que não vem mais. 
Pra todo mundo ela diz que é modelo e atriz, 
Mas hoje eu sei na verdade o que ela faz, 
Quando me telefona pra dizer que não vem mais

Não precisa mais mentir, 
Quero você mesmo assim, 
Diga que me ama, 
Vá fazer o seu programa 
E depois volte pra mim.
Não precisa mais mentir, 
Quero voce mesmo assim, 
Diga que me ama, 
Vá fazer o seu programa 
E depois volte pra mim.

Para ouvir a música, basta dar uma clicadinha aqui, no meu poderoso e  infatigável MARRETÃO 

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3 Comentários

  1. Rapaz, esse disco é uma obra-prima!! Eu também destacaria a faixa 6 ACONTECEU. Adoro a frase “Amor vagabundo também tem seu apelo”. Mais Odair José impossível.
    Leitinho

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    1. Sim, esta é muito boa, também Gosto, igualmente, das faixas "Como um filme" e "Antigos Vícios".
      A gente precisa marcar uma gelada e tomar ouvindo o grande Odair. Tenho também o mais que clássico LP (em CD)"O Filho de José e Maria", uma ópera-rock em que Odair José narra a história do próprio Cristo, obra que quase lhe valeu uma excomunhão da igreja católica.
      É como dizia o tio Sérgio, nos seus velhos tempos de gráfico militante : excomunga, filho da puta, excomunga!

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  2. Ahaha...muito bom. E tem também um CD que o cara do Pato Fu fez com diversos artistas, que é bom. Vamos marcar a gelada para esse ano!
    Leitinho

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