Jardins Suspensos do Azarão

Minhas plantas não são fidalgas tulipas. Nem brejeiras margaridas. Tampouco mimosas azaleias. Menos ainda pudicas violetas, ou luxuriosas gardênias, ou fesceninas damas-da-noite.
Minhas plantas não dão flor. Não dão bom-dia. Não prostituem seus sorrisos. Minhas plantas são ásperas e desesperançadas.
São nômades sobreviventes. Para as minhas plantas, o Saara é um resort, o Atacama, um spa. Minhas plantas passam a água e água. Que nem o pão nem o circo lhes apetecem.
Minhas plantas não foram paridas no berço esplêndido de uma estufa climatizada. Não foram compradas com pedigree à uma floricultura, a um horto, ou na seção de jardinagem do Carrefour, do Wal Mart ou do Leroy Merlin. Minhas plantas são vira-latas e baldias. Todas pegas por mim, ainda filhotes, ainda mudinhas não desmamadas, nas gretas das sarjetas, nas rachaduras do asfalto, nas manjedouras das paredes com infiltração, jogadas em aborto nas caçambas de entulhos.
Minhas plantas não aparecem - modelos, atrizes e putas - em fotos artísticas na capa da revista Casa & Jardim. Fotos 3x4, mal-encaradas e em preto-e-branco, minhas plantas estampam os prontuários policiais do Departamento de Combate e Repressão às Ervas Daninhas.
Minhas plantas não tomam adubos tarjas pretas, encaram a insônia feito gente grande.
Minhas plantas não têm preocupação social nem ambiental, estão cagando para o desmatamento e a destruição da Amazônia. Não querem tornar o mundo em um local mais verde e sustentável, mais respirável.
Minhas plantas apenas verdejam, apenas se autossustentam, apenas respiram. Desinteressadas e desintrometidas de tudo que as rodeiam.
Admiro-as profundamente, por isso.

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