Um Dia na Vida (19)

Nuns dias, ele acorda ruim - e estes são os dias bons. Nuns dias, ele acorda pior. Nuns dias, ele nem dorme.
E a insônia, hoje, lhe é folha em branco, é corredor noturno e deserto de hospital, cheirando a iodo e com fotos emolduradas de enfermeiras fazendo sinal de silêncio com o dedo indicador em riste encostado verticalmente aos lábios.
Antes, a insônia, é bem verdade, sempre foi um canteiro de estrepes, um gramado de abrolhos, um campo de espinheiros. Mas espinheiros vivos, com seiva a lhes correr nas veias, e que floriam vez em quando.
Às vezes, flores cor de areia; noutras, pétalas cor de tédio; em raras ocasiões, aveludadas flores roxas, escorrendo néctar de Mendoza.
Ah, como era bom - pensa ele -, quando minha insônia purpurejava...
 

Postar um comentário

2 Comentários