Aniversário de 70 Anos

Desde março, abril de 2023, quando quebrei de vez, quando passei a ser acometido por episódios, ao mesmo tempo, crônicos e agudos de depressão, ansiedade e início de pânico, desencadeados pelo contato insalubre com o que há de pior na dita sociedade, adotei duas terapêuticas : os tais "remedinhos", que quase nos dão alegria (o caralho que dão), e evitar, com todas as forças, quaisquer ambientes ou ocasiões que reúnam mais que quatro ou cinco pessoas - o principal "gatilho" do meu mal.
 
Porém, como dizem os sempre idiotas ditados populares, "há males que vêm pra bem", "tudo na vida tem um lado bom" (menos um vinil de sertanejo universitário) e "se a vida lhe deu limões, faça uma limonada", minha doença também me foi de certa utilidade de valia.
 
Foi-me um bom e incontestável subterfúgio, forneceu-me irrefutável álibi para minha recusa a diversos convites. Alegando meu quadro clínico, escapei de muito aniversário infantil, de muitos churrascos e de muitas reuniões e almoços em família com tios, tias, primos, primas, cunhados etc.
Antes, eu era só o chato da família, o ranzinza, o mal-humorado; passei a ser aquele que precisa de cuidados, que precisa ser preservado. A doença deu-me novo status.
 
Deixando claro que esse uso que fiz da doença foi, lógico, oportunista, mas não mentiroso. Realmente, sobretudo em ambientes fechados, a presença de muita gente - suas conversas altas, suas risadas escandalosas - me faz passar mal. Começo a ter aquele aperto no peito, aquela sensação de falta de ar.
 
Tanto que, até hoje, quando preciso ir ao mercado, o faço nas "horas mortas", geralmente no sábado logo cedo, assim que o estabelecimento abre, sete, sete e meia da manhã. Saio pra caminhar e já passo no mercado. Algumas vezes já aconteceu de eu pegar o mercado cheio, começar a ficar ruim na fila do caixa, deixar o carrinho ali mesmo, ir embora e voltar mais tarde.
 
Vou ainda, vez ou outra, na casa de alguns amigos, tomar umas, mas sempre no esquema que citei, no máximo mais umas quatro ou cinco pessoas além de mim, e sem música alta.
 
No entanto, neste sábado próximo passado, decidi me reintegrar (ainda que temporariamente, muito temporariamente) ao convívio social. Aceitei o convite para uma festa surpresa de aniversário, que minha irmã e sobrinhos organizaram para a celebração dos 70 anos do meu cunhado, o inigualável Prof. Euclides. Uma figuraça, o Euclides, mais liso que bagre ensaboado, gente boa pra cacete.
Se a festa não fosse em intenção dele, muito provavelmente, eu não teria ido.
 
Quando chegamos  - minha esposa, filho e eu -, o local ainda estava parcialmente vazio, sem barulho, sem música, sem agitação. Porém, conforme o recinto foi sendo locupletado de gente e alguém botou o som na caixa, minha angústia começou a aflorar, aquela vontade - ainda que controlável - de sair dali, de ir pra rua respirar um ar mais fresco. Minha esposa percebeu e disse que, se eu quisesse, poderíamos ficar só um pouco e picarmos a mula. Falei que não, que eu ia ter que me segurar.
 
Então, meu sobrinho passou por nossa mesa e avisou que o chopp tava liberado, era só pegar o copo ao lado da choperia e se servir. Que maravilha! Não seria preciso nem esperar o garçon passar.
Boca-livre e self service! não tem coisa melhor! 
Fui, peguei um belo dum copão, peguei outro, outro, outro, outro, outro, outro...
E aquela angústia foi diminuindo, diminuindo, diminuindo... e sumiu.
 
Os tais ansiolíticos de farmácia, é bem verdade, não me são de todo inócuos, dão-me um certo suporte para controlar meus sintomas ao longo da semana, onde trabalho em um escritório com poucas pessoas e cada uma em sua mesa, mas, no meu caso, o melhor ansiolítico para a convivência, mesmo que eventual, com o bando, é o álcool, é a birita, o goró. Não que as pessoas se tornem mais agradáveis e interessantes ao meus olhos : elas somem, passam a ser vultos, fantasmas. Deixam de me incomodar.
 
É bem a clássica frase do Humphrey Bogart : "a humanidade está sempre duas doses abaixo do normal". Felizardo, o Bogart, que viveu em tempos mais simples, hoje, ele precisaria de muito mais que duas doses.
 
E quando atinjo esse estágio, minha esposa passa a ter o problema oposto : o difícil fica é me convencer a ir embora da festa. Quando atinjo esse estágio, até foto com o aniversariante, eu tiro. E canto o parabéns!
 
E pro Euclides, nada! Tudo! Então, como é que é? É pica, é pica, é pica, é pica, é pica... 
 
Na foto abaixo, por exemplo - devidamente editada e recortada para preservar o anonimato das pessoas ao meu lado, que não sei se gostariam de se ver retratadas aqui -, eu já tinha tomado meio barril!
Pããããããta que o pariu!!!!!
 
 
Em tempo : até voltei aos meus tempos de molecagem, de sacanear os amigos, aprontei uma boa duma travessura no presente que dei a ele. Mas essa é outra história, que fica para uma próxima postagem. Se eu tiver paciência de escrever.

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4 Comentários

  1. Que maravilha t ver feliz e sorrindo amigo AZARÃO. Não o via assim desde a ultima visita lá em casa, onde vomitou na casa toda......kkkkkkk, mas a Maroca disse que estava tudo limpinho.......

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  2. O senhor tem barba de petista! Votou no nove dedos?

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