Que Fossa, Hein, Meu Chapa, Que Fossa...(17)

Tecnicamente, eu não gosto do som sertanejo, e ponto. Porém, algumas músicas sertanejas, devo dar o braço a torcer, são clássicos; incontestes, insuperáveis e imortais registros fonográficos da mais pura cornagem e da mais autêntica dor de cotovelo.
É o caso de "Na Hora do Adeus". A presença da palavra Adeus no título já prenuncia algo da pungência que se seguirá. Adeus é foda. Não é tchau, não é até logo. Adeus é taxativo e categórico. Não deixa margem nem espaço a um reencontro, não deixa o quarto montado esperando por um retorno.
Adeus é definitivo, e o ser humano evita o definitivo o quanto pode, o definitivo é o fim, tem gosto de derrota, de incompetência; talvez por a morte ser definitiva, e o fim.
Adeus não é bye, bye, so long, farewell, como possa supor Guilherme Arantes, outro especialista em cornagem. Até mais..., até um dia..., a gente se vê..., deixam indefinições no ar, deixam reticências a marcar uma trilha para o caminho de volta, feito as migalhas de pão deixadas ao longo do caminho por João e Maria. O adeus não deixa trilha de migalhas, não deixa reticências, que se algo de bom pode ser dito do adeus, é isso, ele nos livra das hediondas reticências.
Por isso, para o sujeito se decidir pelo adeus é porque a testa e o pescoço não mais suportam o peso do chifre. O adeus só vem depois do cara ter sofrido muito, pastado feito burro velho, o adeus nunca é fortuito ou leviano, ele é um condensado terrível de decepções e de dores.
Diz a música em certo trecho : Na hora do adeus, você olhou pra mim,  e não acreditou ao ver chegar o fim, e perguntou, Porque? Mas eu não respondi, só pra não te ofender, disse adeus e sai.  
Sair sem dizer nada, sem aproveitar a chance de chamar a biscate de biscate, a vaca de vaca, a puta de puta, não é estoicismo que qualquer um apresente. É estoicismo adquirido via muita porrada, é estoicismo que é um calo na alma, misto de resignação e desesperança. Além disso, o silêncio é o maior castigo pra vagabunda, o cara sair sem lhe dizer o porquê, ela passar o resto da vida sem a resposta.
E para acabar de matar, o corno segue : Saí da tua vida de cabeça erguida, coisa que você não fez. Pãããta que o pariu. É isso aí, chifrudo. Isso sim é um corno de respeito.
O cara sai todo cheio de orgulho, de cabeça erguida. Com galhada, sim, porém com galhardia. Depois, é claro, o cara vai pro bar, vai chorar pra caralho, vai encher a cara com os amigos, todos cornos também. Mas na frente da biscate, não. Na hora do adeus, não.
Na Hora do Adeus
(Carlos Colla/Chico Roque/Matogrosso)
Na hora do adeus, você olhou pra mim
E não acreditou, ao ver chegar o fim
Tentou me seduzir, chorando me agarrou
Teu corpo ofereceu, pediu e suplicou
E perguntou, Porque?
Mas eu não respondi
Só pra não te ofender, disse adeus e saí.
 
Sai da tua vida, eu só representava
O cheque no final do mês
Você não respeitou quem te amou demais
Só abusou de mim e me passou pra trás
Sai da tua vida de cabeça erguida
Coisa que você não fez
Eu já chorei de mais agora vem a sua vez
Eu acho que vai ser melhor
Melhor pros três

E perguntou, Porque?
Mas eu não respondi
Só pra não te ofender, disse adeus e sai
Sai da tua vida, eu só representava
O cheque no final do mês
Você não respeitou quem te amou de mais
Só abusou de mim e me passou pra trás.

Sai da tua vida de cabeça erguida
Coisa que você não fez
Eu já chorei de mais agora vem a sua vez
Eu acho que vai ser melhor
Melhor pros três
Na hora do adeus, você olhou pra mim
E não acreditou, ao ver chegar o fim.

Para música e vídeo, é só clicar aqui, no meu poderoso MARRETÃO.

Postar um comentário

3 Comentários

  1. Só abusou de mim e me passou pra trás?
    Abusado...esses sertanejos com suas calças pocachana são fruto da prostituição da conciência.
    Somente pessoas com os aposentos da cabeça vazios
    é que viajam nesses generos!
    Deveria ser:Só abusou de mim e me pegou por trás.A única parte positiva da letra é que ela é de acordo com a holy bible:não desejar a mulher do próximo,o proximo era o sertanejo e como estava distante....Mùuuuuu.
    Boa azarão!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Os sertanejões das antigas, aqueles que vieram mesmo do campo, que pegaram em enxada e tudo, têm uma certa dignidade e honradez, afinal os brutos também amam, e levam chifres.
      Agora, de Chitazãozinho e Xororó pra frente, a merda generalizou, com o tal sertanejo universitário, então, nem é preciso comentar.

      Excluir
    2. Os sertanejos "universitotários" deveriam estudar mais em vez de ficar tocando uma para os universitàrios.
      Quanto teu comentário sobre as raízes humildes de quem trabalhou pesado foi muito bem lembrado e pertinente;o engraçado são os nomes das bandas das antigas:joão mineiro e marciano,pirilampo e saracura...eram mais criativos!

      Excluir