DESAPREÇOS

Não me interesso por novos gostos,
Todos findam mesmo por azedar.  
Que fique então esse avinagrado constante em minha língua,  
Plácido, ácido: sem promessas nem expectativas.  
Perdi o apreço por novos filmes, novos livros, novos crimes, novas tecnologias.  
Também não me encanto de novas amizades,  
Todas findam no mesmo distanciamento,  
Todas finam em igual fim não anunciado.  
Que fiquem então as duas ou três de costume,  
Capengas e desdentadas: sem convites para festas nem graves esquecimentos.  
Secou-me a paciência para novas cores, novas camas,  
Novos caminhos, novas rotinas.  
Passo dias sem pôr cara à rua; nada de novas geografias,  
Novas aragens, novas pontes dando em novos horizontes.  
Durmo cedo agora, muito cedo de uns tempos pra cá;  
Nada de novas madrugadas, novos ópios, novos ódios,  
Novas sonoridades, novas bandas de rock.  
Aprecio quase nada!  
Mas sou ainda capaz de contemplar, por horas,  
Os inúmeros dedos tortos e ressequidos dos ipês  
De bem manicuradas e amarelas unhas  
E o gelatinado promissor, o inflar e desinflar,  
De um belo e túrgido par de peitos.  
Um brinde, então!  
Um brinde de rum  
Aos ipês amarelos e às mulheres de mamas fartas.

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