Bilhete (adoro essa palavra, bilhete)
Deixado
(Selado, registradoCarimbado, avaliado, rotulado
Engaiolado)
Entre o limpador de e o para-brisa de um carro
Que me pareceu,
Que julguei ser seu,
Que (talvez) quis que fosse o seu,
Pois, se verdade,
Por alguma sorte ou por algum azar
(meu, seu, de ambos)
Você estaria por perto
(e não apenas na memória e na canção)
E teríamos a probabilidade orbital
De nos encontrarmos por acaso,
Por decisão, por determinação ou vontade
(embora ela seja companheira de meus sonhos, pesadelos e realidades)
Não nossa,
O que nos eximiria
(em autodefesa, nós mesmos advogados de nossos diabos pessoais perante a um tribunal e a um júri compostos por nós mesmos)
De qualquer remorso
De se não uma culpa
(todos somos culpados, só por nascermos)
Ao menos de qualquer dolo ou intencionalidade de nos reencontrarmos
(o aleatório e a coincidência seriam nossos álibis) :
"O que fazes, perdida por essas plagas?
O que fazes, por essas plagas, perdida?"
Em seguida,
Devolvo
Reponho minha caneta Bic roxa
À minha bolsa carteiro de brim cáqui,
Juntamente
À minha esperança
(espera eterna, resignada e cômoda)
E à minha saudade.
Que é onde deveriam ser guardadas
Postas a dormir
Ainda que insones
Todas as canetas,
Esperanças e saudades :
Numa carga
Num fardo
Num esquife de lona
Nos ombros de Atlas
De quem se atreve a alimentá-las,
De fazê-las em folclore pessoal
De crer em sacis a cavalgar pirilampos-sem-cabeça.
2 Comentários
Muito bonito! Conheço esses sentimentos. Apesar de tudo, conheço muito. E às vezes dói.
ResponderExcluirSeria legal se tivesse concluído com "é verdade esse bilete", em referência ao meme. kkkk
ResponderExcluirEspero que um dia reúna todos os seus poemas em um e-book.
Abraços