Metrópoles e Pequenas Infidelidades

A noite vai esvaziando. 
Tomo-a em doses puras, sem gelo. 
Inútil. 
A noite não me embebeda mais. 
Transcorre tranqüila, no entanto. 
Não há tristeza daquelas densas, 
Irrespiráveis. 
Apenas móbiles de angústias leves 
A balançar e tilintar 
Pequenos e melancólicos sons de bronze. 
Vai amanhecendo a garrafa de rum 
Projetando um nascer do sol âmbar 
Na um dia branca toalha da mesa 
E em minha, outrora, face bela. 
Dispensável arrebol : 
Não pode devolver o viço a nenhum dos dois. 
Vasculho o armário de remédios 
À cata de um paregórico, uma panacéia, 
Para corrigir a azia, 
O incômodo de uma vida confortável 
Que não me deixa arriscar mais nada: 
Todos com prazos de validade vencidos. 
Você dorme 
E eu sonho. 
Dorme a roncos vistos 
E eu sonho à vozes trancafiadas. 
Absorto, em meu pensamento torto, 
Eu tramo. 
Arquiteto metrópoles silenciosas 
E pequenas infidelidades.
"Você não estava procurando a alma humana? É por isso que você continua mudando pessoas e coisas por aí e ao seu redor, a cada noite, a cada noite, a cada noite, a cada noite..."

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9 Comentários

  1. Na verdade isso eu chamo por outro nome.
    "J"

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  2. O senhor gostou da festa do Oscar? E a gafe na entrega de melhor filme? O que achou de La La Land? Brinde-nos com seus comentários de critico de cinema

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    1. Até as décadas de 1980, 1990, eu poderia ser considerado um cinéfilo, conheço muita coisa dessa época, mas daí em diante, as atribulações e compromissos da vida adulta me deixaram sem tempo e disposição para ir a um cinema, nem mesmo para assistir em casa. Cerimônia do Oscar, já tem uns 15 anos que não vejo.
      Quando algum filme me toca ou me impressiona de alguma maneira, eu comento aqui, mas é cada vez mais raro. Alguns exemplos, se quiser perder um tempinho :
      http://amarretadoazarao.blogspot.com.br/2015/02/ao-birdman-aninhado-em-cada-um-de-nos.html

      http://amarretadoazarao.blogspot.com.br/2009/08/o-lutador.html

      http://amarretadoazarao.blogspot.com.br/2016/02/00-machete-o-james-bond-cucaracha.html

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  3. Realmente não sei o que acho melhor: o poema ou os comentários. Dessa vez vai para o poema.
    A infidelidade. No papel permanece? No gole de seja lá qual for a bebida?

    Abraços.

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    1. No papel, as lembranças, remotas pra cacete.
      Rum, sempre o rum. Nesse minha folia caseira - felizmente não fui pra lugar nenhum -, fui de rum, todos os dias.

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    2. Melhor que escutar trio elétrico e outros ruídos atuais.

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    3. Ficou de fogo de rum e ficou com vontade de queimar a rosquinha?
      Rosquinha

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    4. A sua rosquinha, sim. De queimar, esfolar, gratinar, empalar.

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