Trinta dias
Sem ter que conviver com nenhum clandestino.
Só comigo,
Com os meus :
Filho, esposa,
Minhas duas gatas,
Livros, discos, gibis.
Trinta dias
Sem ter que interagir
Com quem a nada reage,
Sem ter que dialogar
Com papagaios,
Sem ter que trocar ideias
Com quem não as têm para escambo.
Só com os robôs
Que me atendem :
nos supermercados
nas padarias
nos bancos
nas bancas de jornais.
Tenho com eles
Mesma relação que com um semáforo.
Trinta dias
De madrugadas
De me sentar à sacada
Abaixo, a rua limpa de gente
À frente, um canecão de cerveja bock
Trinta dias
Sem trabalhar
Sem trabalhar
Sem nada produzir
Nos mais completos
Isolamento
E inutilidade.
E quem disser que há melhor vida
Decididamente
É um completo idiota.
Mas o coletivo
Não me dá grandes folgas.
Logo vem
Com seu balido descerebrado
Com seu balido descerebrado
Logo vem
Com sua fossa negra
Com sua fossa negra
Me acuar com seus dejetos
Me sufocar com sua merda.
Sobe-me pelos pés
Calcanhares
Joelhos
Umbigo
Queixo.
Fecho os olhos
Prendo a respiração
Mergulho.
3 Comentários
Azarão, esse barulhinho é a sua cara: http://www.youtube.com/watch?v=xKo168EyMjw
ResponderExcluirCara, você acertou em cheio!!!
ExcluirE já que também curte o Paulinho da Viola, ainda ontem vi no canal Arte 1 um documentário sobre ele. O cara é um gênio.
Procure ver esse documentário, compensa pra caramba.
Abraços.
Hei de ver sim, obrigado pela indicação.
ResponderExcluirUm abraço,
Salve Cláudia Ohana!