Como as ideias continuam a vir, a zombar da minha preguiça, da minha inapetência em trazê-las ao papel e, depois, para cá, ao Marreta, e como também me ressinto um pouco (ainda) de deixar o blog sem ser alimentado e regado por muito tempo, escrevo agora esse desabafo inútil.
Sempre fui meio desequilibrado mentalmente, sempre tive consciência disso, até. Porém, bastava que me deixassem quieto, sem ser incomodado, no silêncio, de preferência, que ficava tudo sob controle.
Acontece que me tornei professor, inda em meados da década de 1990. Tempos de ainda maiores silêncios e melhores comportamentos em sala de aula. Tempos ainda de, se não maior respeito pela figura do professor, de um maior e mais rigoroso regramento dos regimentos escolares, cuja infração incidia, certamente, em chumbo grosso, em justa punição.
De 1996 em diante, com a homologação da LDB canalhopaulofreirista do caralho, projeto muito bem estudado e arquitetado para a demolição do ensino público, a situação do docente começou a ir ladeira abaixo.
Resumindo : hoje, só no estado de SP, são mais de 100 docentes afastados por dia devido a transtornos mentais, sendo a ansiedade, o pânico e a depressão os principais deles.
Em 2023, passei a fazer parte desta estatística tão honrosa e querida pela Pátria Educadora petista. Louco que sempre fui, tornei um louco ansioso, com pânico e medo das situações mais comezinhas que se possa imaginar.
Não conseguia (ainda tenho dificuldades) encarar um mercado cheio de gente - já cheguei a largar o carrinho com as compras e ir embora. Há tempos que não vou à cinemas, sei que não conseguiria ficar por duas horas confinado com outras dezenas ou centenas de pessoas. Tenho amigos em cidades próximas que vivem a me convidar para um fim de semana, mas não arrisco, pois não tenho certeza de como me comportaria dentro de um ônibus fechado. Etc etc etc.
De louco, fui promovido a louco diagnosticado, laudado e medicado.
Ano passado, com a mudança de ambiente de trabalho, consegui deixar os remédios e passei um bom tempo bem sem eles. Porém, uma vez desenvolvidos tais sintomas, eles podem desaparecer por um tempo, mas por qualquer motivo, qualquer gatilho, que muitas vezes nem percebemos, eles voltam com tudo.
Os meus voltaram e há três meses voltei com os remédios, que me dão (quase, mas muito quase mesmo) alegria, e com retornos e consultas periódicas com a psiquiatra para averiguação do quadro.
A minha última consulta era pra ter sido no dia 05/08. Secretária entrou em contato, disse que a doutora teve lá uns imprevistos etc (não acredito em nada que secretária de médico diz) e remarcou para hoje, dia 27/08.
Ora, porra, o julgamento de Hipócrates que se foda, né? A tal psiquiatra trata de gente doida, com ansiedade, pânico, bipolaridade, esquizofrenia etc. Ainda assim fica adiando consulta? Isso só não vem a agravar os sintomas?
Então, ontem, de novo, a doutora teve outro contratempo (provavelmente, o surgimento de uma consulta particular em detrimento da minha, de convênio) e minha consulta foi remarcada para o dia 05/09.
Nem questionei, respondi apenas : diga pra doutora que preciso de mais uma receita, os meus medicamentos só duram até sexta-feira.
A receita foi enviada online e decidi que, de agora em diante, minha relação com a médica será essa, se ela nem quiser mais marcar consulta, não precisa, desde que continue a me fornecer as drogas. Nunca acreditei mesmo nesses psicopicaretas, psiquiatras, psicólogos, psicoterapeutas, psicopedagogos e outros charlatões.
Até prefiro evitar o blá-blá-blá pré-fabricado deles.
Depois deste segundo reagendamento passarei a vê-la desta forma : como a necessária traficante que me fornece as drogas de que preciso. E só. Nada mais.
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