Ele,
Assistindo,
Melhor : coassistindo
A uma série maratonada pela esposa
(fumante involuntário e passivo, ele, de plataformas de streaming)
Em que
Dois personagens
Se digladiam numa partida de tênis de mesa,
Das tardes ociosas
(as que eram sempre as mais úteis e produtivas)
Pontuadas, ritmadas e cronometradas
Não pelos ponteiros de um reles relógio de parede,
Pendurado na parede da cantina do Seu Zé,
Recebido de brinde de algum fornecedor.
Sim pelos tique-taques dos golpes de raquete
Desferidos nas pequenas e masoquistas esféricas plásticas.
Sente saudade de seus tempos de pingue-pongue
De tudo o que tornava e possibilitava
Esses tempos possíveis.
Sente saudades...
Muitas.
Mas não vontade alguma de revivê-los.
Apenas de preservá-los,
Embalsamá-los
Mumificá-los,
Transformá-los em picles do passado,
Conservá-los, enfim.
No vinagre e na salmoura
No formol
No necrotéiro e no campo santo
Da memória.
Guardá-los
Em porta-retratos
E em urnas funerárias
Dispostos e expostos
Em suas estantes
Sobre sua inexistente lareira,
Uma vez que
Desgraçadamente
Nascido nos tristes trópicos.
Não quer
De forma alguma
Revivê-los
(os seus tempos de às da raquete),
Quer apenas
Tê-los à disposição.
Para exumá-los
Quando bem lhe aprouver,
Numa sessão particular
E fetichista
De slides
E de filmes super 8,
Com o projetor a rodar no automático
E ele
A dormir
E a babar
Embriagado
No braço do sofá.
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