Sempre enfrentei
Contente, disposto e bem treinado
Os meus demônios.
Sempre gostei de ter meus demônios
Meus próprios demônios
Sempre foram os únicos adversários
Quase à minha altura.
Os do Inferno?
Pesos-penas frente ao Mike Tyson
Que sempre fora.
Sempre gostei
De subir ao ringue
Ao octógono
Com meus próprios demônios :
A angústia,
A insônia,
A ansiedade,
A depressão,
A timidez.
Sim.
Todos os meus demônios são femininos.
São súcubos.
Sempre saí fodido
Dos combates que travei com meus demônios :
Supercílios lacerados,
Nariz estilhaçado,
Costelas fraturadas,
Fígado dinamitado.
Mas sempre pleno e exultante
Por tê-los nocauteado,
Por tê-los exorcizado
No último instante do último round.
Por que,
Então,
De uns tempos para cá
Passei a ter medo,
Cagaço?
Por que fujo,
Poltrão,
De esgrimir minhas luvas com eles?
Por que
Me esquivo,
Nego-lhes novas lutas,
Outras revanches?
Por que vou à lona.
Me prostro,
Me encolho,
Não me levanto,
Falto ao trabalho,
Só de pensar em enfrentá-los?
Por que evito,
Como dizem que o diabo à cruz,
Os telefonemas,
E-mails,
Whatsapps
Do empresário dos meus demônios :
A vida?
Por que mando
A um dos meus secretários,
O ansiolítico,
Dizer à Angústia, ao enforcamento do peito
Que estou em viagem de negócios?
Por que deixo ordens expressas
A um dos meus assistentes,
O antidepressivo,
Para dizer à fossa profunda, que habita nos abissais de mim,
Que me encontro em reunião?
Por que oriento o porteiro de meu prédio,
O sonífero, o calmante hipnótico,
A não receber correspondência ou encomenda
Da Insônia, das corujas, dos vagalumes e das estrelas cadentes,
A lhes dizer que mudei de endereço?
Quando foi que quebrei/fui quebrado?
Quando foi que me acovardei de todo?
Quando foi que o glaucoma e a catarata da existência-água-mole-em-pedra-dura
Nublaram,
Vazaram
E arrancaram
Meus olhos de tigre?
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