Você Já Fez o Teste de Rorschach?

A primeira vez que li o nome Rorschach foi nas páginas da HQ Watchmen, de Alan Moore e Dave Gibbons. Obra magistral. Certamente, a melhor HQ a respeito do tema vigilantes mascarados.
Na HQ, Rorschach é um vigilante solitário, o último ainda a patrulhar as ruas depois que um decreto governamental proibira a ação dos mascarados vestidos de collant. Doido de pedra. Mais psicótico que os psicopatas que caçava. Por isso, tão preciso e eficaz em sua tarefa.
 
Rorschach não trajava roupas coloridas, brilhantes e coladinhas ao corpo. Vestia um surrado e pesado sobretudo marrom e um chapéu de mesma cor. O que mais chamava a atenção nele : a máscara. Branca e com borrões de tinta sem um desenho fixo, definitivo, que mudavam de conformação a todo momento, aleatoriamente.

 
O próprio Rorschach projetou e costurou sua máscara. A partir de um tecido especial desenvolvido pelo Dr. Manhattan a pedido de uma nobre italiana para ser usado na confecção de um vestido. A tal não gostou do tecido e ele foi descartado. Resgatado e aproveitado por Rorschach.
 
O tecido é composto por duas camadas de látex translúcido entremeadas por um fluido preto viscoso, que reage às variações de temperatura e pressão do corpo, causando o padrão randômico dos borrões.
E eu passei muito tempo, muito tempo mesmo, mais de década (a HQ foi lançada no Brasil em 1989), sem fazer a menor ideia de que tanto o nome do personagem quanto a sua bizarra máscara eram uma alusão direta ao psiquiatra e psicanalista suíço Hermann Rorschach e ao seu famoso método de avaliação de lelés da cuca, o Teste de... Rorschach.
 
Que consiste em mostrar uma série de pranchas com borrões de tinta indistintos (como os formados pelo tecido da máscara) para o maluco e pedir que ele diga o que está vendo em cada uma daquelas borroqueiras, que o pirado diga que efeito de pareidolia cada uma das imagens lhe evoca.
Teoricamente, o que o desequilibrado enxergar nos borrões trará à tona importantes informações presas em seu subconsciente.
 
Só fiquei sabendo da relação entre os dois Rorschachs, como disse, um bom tempo depois, na mesa de um boteco e pela boca de um velho amigo, o Nariz. Não fosse o Nariz, possivelmente, não saberia do psicanalista suíço e de seu teste até hoje. E por quê?
Porque, simplesmente, nunca botei a menor fé nessas chamadas psicociências ou coisa que as valha. Nunca. Ignorância de minha parte? Pode até ser. Mas não lhes acredito mesmo, os tais "estudiosos da alma". 
Uma ex-namorada, toda analisada e crente nesses métodos, disse-me um dia que nunca tinha visto uma ciência ser tão desprezada por quem tanto tinha necessidade dela; eu, no caso.

GRF, dileto ex-aluno, hoje um amigo e já mestre e, quiçá, doutor na área, também avesso a Freud e à psicanálise, garante-me haver a psicologia séria, a vertente, óbvio, em que ele se especializou. Nunca conversei mais a fundo com ele sobre isso, em como se daria, por exemplo, a aplicação clínica dela. O que sei é que a psicologia do GRF tem um embasamento mais biológico.

Para dizer que nunca dei chance à psicologia, tentei recorrer aos seus préstimos por duas vezes.
A primeira em 2009. Eram vésperas do nascimento do meu filho e minha esposa achou que uma terapia me ajudaria com a mudança da rotina, com a responsabilidade de ser pai. Não que eu concordasse com ela, mas topei. Uma velha e querida amiga, conseguiu me encaixar na agenda de uma psicóloga que atendia no Departamento de Psicologia da USP, aqui em Ribeirão Preto.
 
Segundo minha amiga, era uma senhora muito competente, atenciosa, havia até a ajudado a largar dos tarjas pretas que tomava. Resolvi experimentar. Depois da segunda ou terceira sessão, passei a me sentir um farsante, um ator, não havia mais o que eu dizer àquela senhora, eu passava os dias anteriores à consulta pensando no que eu iria dizer. Não que eu tenha mentido, isso de forma alguma, mas não tinha mais nada a dizer e ficava reciclando assuntos. 
 
Lá pela quinta ou sexta sessão, a mesma psicóloga, que livrara minha amiga dos medicamentos, sugeriu-me buscar um psiquiatra que pudesse me receitar uns remedinhos, indicou-me até o nome do psiquiatra e do remédio que ela acreditava que pudesse me ajudar, Tofranil. Fiz mais umas duas ou três sessões e piquei a mula.
 
A segunda vez foi no ano passado, 2023, recomendação da psiquiatra com quem estava a me consultar como forma de tratamento paralelo ao dos medicamentos. Liguei para quase toda a lista de psicólogos do convênio e encontrei um com agenda aberta, uma. Uma moça novinha, muito simpática e tudo. Mas que me olhava com uma cara de dó, com uma condescendência desgraçada. Até aí tudo bem. Foi a mesma coisa : eu reciclando assuntos, sem nada a dizer.
Então, na quarta sessão, ela sugeriu que eu fizesse meditação! Pãããããta que o pariu!!!! Nunca mais apareci lá.
 
Como viram, eu tentei, dei meu voto de confiança, porém...

Vai daí que, sábado próximo passado, ao sair do meu e-mail, dei de cara com um anúncio de um Teste de Rorschach, online e gratuito. Por que fazê-lo, por que não fazê-lo? Fi-lo, como diria Jânio Quadros. A título de brincadeira, de curiosidade, com a mesma disposição de espírito com que respondia àqueles questionários de revistas femininas que ficavam em consultórios médicos, odontológicos etc.
 
Foram me apresentadas dez pranchas (dei uma pesquisada depois e vi que são as mesmas dez que um psicólogo me mostraria em seu consultório), uma de cada vez. Para ser sincero, "ver" mesmo alguma coisa, só vi em duas das pranchas. O teste, contudo, é conduzido de forma a facilitar que enxerguemos algo. Depois de cada prancha, uma série de dez alternativas, que o autor do teste julgou possíveis de serem reconhecidas no desenho. "O que mais se aproxima do que você vê na imagem?", pergunta o teste, e relaciona as opções. 
 
Então, fui lendo cada opção e tentando enxergá-la nos borrões. Quando conseguia, marcava a alternativa em questão. Havia também sempre a opção "Nada", quando nada enxergássemos além do que aquilo era, um borrão de tinta. Marquei "Nada" em duas pranchas.
Abaixo, as pranchas. 


Da esquerda para a direita e da linha de cima para a de baixo, marquei as seguintes respostas : 1) cavalos-marinhos ou lagostas; 2) borboleta; 3) tapetes de pele; 4) dois homens; 5) nada; 6) morcego; 7) dois elefantes; 8) insetos ou aranhas; 9) nada; 10) cabeça de um animal.

E o tão esperado resultado :
Pãããããta que o pariu!!!! Eu sou mais que normal!!! Tenho uma mente e uma psiquê saudáveis e equilibradas!!! 
Gostei pra caralho do resultado. Não porque ele esteja correto. Aliás, ninguém que me conheça um pouco mais de perto seria capaz de avalizá-lo. Gostei porque ele veio ao encontro da descrença que sempre nutri em relações a essas psicologices.
Eu, saudável e equilibrado? Nem minha mãe acredita nisso! 

Caso alguém queira fazer o teste, é só clicar aqui, no meu poderoso e equilibradíssimo MARRETÃO.
E depois me contar o resultado.

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4 Comentários

  1. Esse teste é furada. Diz que eu sou normal. Kkkkk

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    1. Até tu, normal?
      Pãããâãta!!!!
      Só se formos normais feito os personagens daquele seriado Os Normais.
      Mas acho que, de fato, somos normais e que o mundo é que está doente, insano, e que, por conseguinte, adoece-nos também.

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  2. A existência de dez opções por prancha já indica uma simplificação totalmente indesejável e inadequada. Eu, se fosse você, mostraria seu "resultado para o GRF. Seria legal ouvir sua opinião. Eu já fiz esse texto mais de uma vez, com profissionais diferentes. E o que posso te dizer é que as imagens que vê (além das muito óbvias) dizem ou sugerem como estão seus grilos naquele momento, pois você vê coisas que não tinha visto antes. Ao contrário de você, eu sou fã de psicologia e tenho um certo arrependimento de não ter escolhido essa profissão.

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    1. Enviei o resultado do teste pro GRF, pra ver o que ele acha. Como eu disse no texto, ele também não é exatamente um fã de psicanálise. Vamos ver o que ele responde. Ou melhor, quando ele responde, pois como está escrito no recado do whatsapp dele : Prazo de resposta : 2 minutos ou 2 meses.

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