Cerveja-Feira (55)

Esqueçam seus copos americanos Nadir Figueiredo, oh, bebedores das antigas!!! Idem para os copos de requeijão!!! Ibidem para as canecas de alumínio com os emblemas de seus times!!!
Cerveja não é para se tomar em qualquer copo. Assim como toda panela tem a sua tampa e toda corda, a sua caçamba, não é qualquer copo que pode conter qualquer cerveja; não é qualquer cerveja que pode ser acondicionada em qualquer copo. Há de se adequar o conteúdo ao continente; e vice-versa.
Preparem-se, oh, cervejeiros das antigas, que aqui vem mais uma da série Cerveja Já Foi Coisa de Macho. Mais uma peça do intrincado plano para a destruição do macho das antigas, para o embichamento do planeta. O macho das antigas é indestrutível, invulnerável, se confrontado diretamente. O que fazem, então, e vem fazendo há algum tempo, as insidiosas mentes que querem o nosso fim? Começam a minar, a solapar, a desmoralizar e a afrescalhar os principais símbolos dos machos das antigas. 
Foi assim com a barba. Hoje, em cada esquina, há uma barber shop, uma boutique da barba; hoje há mais produtos cosméticos para a barba do "novo macho" do que para os cabelos da mulherada. É a barba gourmet.
O mesmo vem se dando com a cerveja, cuja imagem vem sendo, paulatinamente, desvinculada daquele bebedor de buteco, daquele tiozão de churrasco, e sendo associada a "degustadores", a gente que faz biquinho pra dar um golinho. Imagina se um cara desse cai de boca num bucetão... Não se pode destruir diretamente o macho das antigas? Roubem-lhe, pois, os seus símbolos, que ele ruirá na sequência. São sub-reptícias e covardes, essas guerras ideológicas.
Não bastasse a existência de uma Escala Frescurométrica de Cerveja, a escala Michael Jackson, aquela que apregoa que cerveja não é para se tomar estupidamente gelada, que cada tipo de cerveja tem sua temperatura ideal de degustação, com o bônus de que, depois de aferir a temperatura de sua cerveja, o degustador pode enfiar o termômetro no cu, como já bem retratei aqui, na Cerveja-Feira (44), descobri agora que cada tipo de cerveja tem também o seu copo ideal para ser apreciada.
Segundo as gazelas cervejeiras, um copo inadequado pode depreciar e pôr a perder as qualidades organolépticas de uma boa cerveja, deixar esvanecer seus atributos sensoriais; o oposto também é válido, um copo escolhido com precisão pode valorizar, dar um upgrade no bouquet e no terroir da cerveja. A altura, o formato, o diâmetro da boca do copo e mesmo o material com o qual ele foi confeccionado podem concentrar e maximar o aroma, a carbonatação, a coloração e o retrogosto da cerveja, que é o que os degustadores mais apreciam na cerveja, o retrogosto.
Abaixo um pequeno exemplo de mais essa boiolagem.


E essa é apenas uma pequena lista, tem muito mais ainda, uma variedade quase infinita de tipos de copos, quase tão infinita quanto a "sofisticação" dos degustadores.


Eu não queria falar, mas agora vou dizer : em público, na presença de outros "entendidos", num pub, num bistrô ou num lounge bar, até acredito que os degustadores sigam tais parâmetros, que beberiquem suas cervejas nos ideais copos. Mas, na intimidade, apenas entre quatro paredes, eu tenho certeza, os copinhos dos degustadores aceitam qualquer cerveja, qualquer long neck ou ampola. Preferencialmente, uma Brahma casco escuro!!! 
Pããããããta que o pariu!!!!!!
Eu, de minha parte, logo mais à noite, entornarei minha Lokal. Em copo de geleia. Melhor : de extrato de tomate!

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6 Comentários

  1. Fico feliz de rir com suas tiradas. A frase final me fez rir pra caralho, Eu não entendo de cerveja, embora tenha me casado em uma casa de "machos das antigas", bebuns inveterados (três alcóolatras). Um deles, já falecido (acidente), tomava dezesseis garrafas de Brahma nas tardes de sábado (só ele!). Chegava no botequim às dez horas e voltava trêbado para almoçar na casa da mãe às quatro da tarde. Fico aqui pensando: se há um copo específico para cada cerveja, a partir de qual garrafa isso deixava de ser importante? (o cara já engoliu até palito sem perceber!)

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    1. Rapaz, dezesseis garrafas, eu preciso de uns três ou quatro dias pra beber. Esse era um verdadeiro fdf, fígado de ferro. E tem muita gente, que depois de bêbada, já engoliu coisa muito pior do que um palito!!!! Pãããããta....
      O que me lembrou daquela piada do cara que foi ao ginecologista. Conhece?

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  2. Eu tenho respeito por todo e qualquer tipo de conhecimento bem estruturado, metódico e tal. Respeito pra caralho toda a ciência por detrás de um bom vinho ou uma boa cerveja. Sei que não dá para comparar uma cerveja artesanal com uma bavaria ou uma subzero. Mas gosto de encher o saco um pouco, de provocar, de brincar com certos purismos, ou, como diria o Erasmo, de manter a minha fama de mau.
    Também acho que cerveja é cerveja, e ponto. Que barba é barba, e ponto. E que todo o gasto em torno de qualquer adereço ou penduricalho pode, sim, e deve, ser empregado em outras coisas, como gibi, livros etc.
    Esse seu comentário mostra que você entendeu bem o verdadeiro espírito desse blogue. E vos digo : és também um verdadeiro macho das antigas!!!
    Abraços

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  3. Eu também não entendo muito disso de gosto diferente de cerveja. Consigo fazer uma distinção bruta entre o horrível e algo bom, mas esse negócio de nuances, principalmente quando chega numa situação bizarra como as dos copos, não consigo diferenciar.
    Já escutei algo parecido com o que você menciona no texto, que também é bem parecido com o que acontece nos vinhos. Infelizmente, como já mencionei algumas vezes, nasci com o nariz torto e nunca senti cheiro de verdade. Já perdi a conta das vezes em que comi comida meio pra lá já por não sentir o cheiro ruim, quiçá diferenciar cerveja e vinho pelo terroir.
    Acho que as barbearias gourmet são modas como as paletas mexicanas, logo mais sumirão todas e sobrarão somente os velhos barbeiros.
    Abraços!

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