Algum Veneno Que me Dê Alegria

E se um dia 
Eu morrer de umas doses,
De cirrose,
Se da vida
Essa for a minha alforria,
Se eu morrer de folia,
Irei sereno
Feliz e sorridente na despedida.
Terei morrido
Não de doença
Ou de falência :
Do tiro de clemência
Do veneno
Que tanto me ajudou a suportar a vida.

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11 Comentários

  1. Respostas
    1. Ia comentar exatamente o mesmo.

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    2. Um dos seus melhores textos. E além de me lembrar muito Bukowski, me lembrou muito meu pai. E me lembrou também um trecho de Bocage:
      "Aqui dorme Bocage, o putanheiro:
      Passou a vida folgada, e milagrosa:
      Comeu, bebeu, fodeu sem ter dinheiro."

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    3. Então, seu pai deve ser um sujeito muito interessante. Ele tamb´´em é chegado num copo? Gostaria de beber com ele.
      E bota milagrosa nessa vida do Bocage, comer, beber e foder sem ter dinheiro!!!
      Um dos meus heróis, o Bocage!

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    4. Painho faleceu de hepatite, cirrose e falência múltipla dos órgãos. O velho era bacaba. Morreu bebendo 1l de 51, a garrafa permaneceu ao lado dele na cama. Um italiano que realmente amava beber (comer e foder também kkkkk).

      Quando ouvi a primeira vez essa frase de Bocage, que inclusive foi ainda na escola, senti uma vontade enorme de colocar na lápide dele.

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    5. Uma pena. Certos temas podem até ficar bons na forma de textos, poemas, mas transpostos para a realidade nada têm de poéticos, têm de trágicos.
      E se nem todo poeta chega a ser um total fingidor das dores que diz sentir, do que escreve, todos são, ao menos, grandes exagerados; adoram carregar nas tintas, cultuam a hipérbole.
      Eu bebo, sim, mas com grande covardia, de uma forma (se comparada à que disse do seu pai)até tímida. Tomo basicamente cerveja, arrisco-me muito pouco com destilados; pinga, então, dá pra contar nos dedos das mãos as vezes que tomei.
      Em suma, como conversamos a respeito um dia desses, sou uma farsa.
      Se quiser dar uma olhada:
      https://amarretadoazarao.blogspot.com/2016/06/exagerado.html

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    6. Sim, exatamente. Quando escrevo gosto de incorporar uma tristeza e sentimentos de maneira intensa, e quando vou ver o resultado final, as vezes penso "poxa vida, será que sinto tudo isso mesmo?". Kkkkk

      Você bebe com responsabilidade, eu entendo. É um apreciador. Muitas vezes tentei conter o vício de meu pai, mesmo sendo apenas uma menina. Mas como ele sempre bebeu e nunca foi de ter "características de alcoólatra" (como embriagar e perder a noção do que faz), conforme fui crescendo entendi que aquele era o remédio dele (e que apesar de tê-lo feito perder a vida, ajudou a suportar ela, assim como você escreveu).

      Vou conferir o post!

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  2. Acho que estou chegando tarde para elogiar, mas realmente ficou muito bom esse poema, bom mesmo.

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    1. O elogio (ainda que imerecido) só chega tarde se vem depois da morte.
      Valeu.

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  3. Cazuza cantou isso assim muito bem antes de ir-se.

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    1. Quase isso, cara Solange. Obviamente, o título é sim inspirado na canção Todo Amor Que Houver Nessa Vida, mas só o título, uma vez que a letra da música eu considero um tanto piegas e melosa. Cazuza diz de "veneno antimonotonia" e de "um remédio que lhe dê alegria" ;eu misturei, fiz uma reação de dupla-troca e me saí com um veneno que me dê alegria.
      Primeira vez aqui no Marreta? Como chegou até aqui?
      Obrigado pelo comentário.

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