Cerveja-Feira (29)

Não temos sempre a impressão de que, antigamente, a infância era muito mais doce e idílica? Mais infância, enfim? Que as crianças eram sempre mais coradas, alegres e robustas; vivas, enfim? Não temos sempre a sensação de que as crianças de antigamente - ainda da era pré-tv - eram muito mais felizes e ajustadas que as de hoje, já neuróticas, já a se deitarem em divãs de psicólogos, psiquiatras, terapeutas etc juntamente com seus pais mais loucos ainda, já diagnosticadas com transtornos disso, daquilo, daquiloutro?
Pois vos digo que não é impressão ou sensação. Tampouco algum tipo de saudosismo barato. É fato. As crianças das antigas eram muito mais alegres e equilibradas. Muito mais crianças, enfim.
E por quê? Por que podiam ser bichos soltos a brincar e a pinotear em brincadeiras pelas ruas? Por que eram bem cuidadas pelas mães, que lhes ensinavam modos e maneiras, que lhes alimentavam com comida de verdade ao invés de miojos, congelados e fast food, que lhes davam Biotônico Fontoura e Emulsão Scott antes do almoço, que lhes atribuíam deveres e obrigações em casa, criando desde cedo um senso de responsabilidade? Por que havia o terapêutico chinelão das mães, que, aplicado diariamente e em doses homeopáticas, não só curava como também previnia qualquer transtorno de déficit de atenção, de hiperatividade etc?
Sim. Por tudo isso. Também por tudo isso. Mas não só. Nem principalmente por tudo isso.
As crianças das antigas eram mais alegres, coradas, felizes e bem-dispostas porque bebiam uma cervejinha!!! Sim, meus caros. Nas décadas de 1920, 30, 40, 50, a cerveja ainda não havia sido demonizada pelo politicamente correto. A cerveja era tida, inclusive, como um tônico, um fortificante. E o risco de induzir as crianças ao vício, ao alcoolismo? Duvido que houvesse, proporcionalmente aos dias atuais, mais ou menos alcoólatras nas décadas citadas. E vício por vício, todos são compulsões. A obesidade, que é decorrente do vício, da compulsão por comida, mata mais que o alcoolismo. Em 2019, segundo dados da FAO (a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura), mais de quatro milhões de pessoas pelo mundo morreram de obesidade, do vício por comida. Em 2018, segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde), três milhões de bebuns pelo mundo morreram em decorrência de seu vício. A obesidade mata mais que o alcoolismo. Mata mais que o câncer, que os acidentes de trânsito, que o crime. É a segunda maior causa de morte global, só perde para o tabagismo. 
Será que, em breve, deixaremos também de dar arroz e feijão para as crianças pelo risco delas se tornarem viciadas em comida?
Abaixo, algumas propagandas antigas de cerveja, alguns reclames que faziam, literalmente, a alegria e a festa da molecada.
E a coisa já começava na fase de lactância! A mãe tomava, depurava a cerveja e a fornecia via peitaria para o seu filhote! A cerveja é nutritiva, diz o cartaz, em bom francês! Este bebê bebe, referindo-se ao da esquerda; este não bebe, ao da direita. E as mães, então? Vejam o viço e a turgidez da mamadeira da primeira; o abatimento e a muxiba da segunda. Nesta época, se eu fosse pai, eu também trocaria o gargalo pelo mamilo!
A criança cresceu um pouco? Já consegue pegar objetos e levá-los à boca? Mamadeira e chupeta é o caralho!!! Um  bom canecão de cerveja, isso sim. Tenho certeza de que, nesta época, criança não tinha cólica, não fazia birra e, o principal, dormia feito um anjinho a noite inteira.
Mais crescidinhos? Já sabendo se sentarem e a bem se portarem à mesa?  Uma malzebier no lanche da tarde com a mamãe. Um tônico contra a anemia e a palidez!
Visita à  casa do vovô? Ki-suco e grosselha vitaminada Milani é o cacete. Valha-me São Bepim! Uma boa breja, isso sim. Benéfica para o jovem e para o velho, garante a Seattle Brewing & Malting Co. A cerveja é feito o programa do Bozo : alô criançada, a cerveja chegou, trazendo alegria pra você e o vovô! E o cartaz continua : cultive o hábito de tomar a Rainier Beer. Traz um brilho para a saúde e dá um novo sopro de vida... nenhum medicamento pode igualá-la como tônico. Se fosse hoje, o bom velhinho seria acusado e preso por corrupção de menores e por intenções pedófilas.
É por essas e por outras que, sempre que nos referimos ao passado, dizemos : bons tempos, bons tempos...
Za Zdorovye!!!

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5 Comentários

  1. É a cerveja, unindo gerações. O cartaz francês é extremamente criativo.

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  2. Olá, Marreta.

    Ainda é costume familiar, por aqui, as lactantes tomarem muita cerveja preta. Quando algum guri está doente, há vários "lambedores" à base de cachaça. Quando eu era criança, tomávamos sangria em várias ocasiões. E por aí vai.

    Atualmente, vejo muita criança nervosa, com os nervos em frangalhos. Fico pensando o que será daquele ser na maturidade. Conversando com um colega pediatra, este me confessou perceber uma epidemia de crianças com transtornos mentais, especialmente do espectro autista.

    Cerveja para guri era o mínimo. Havia também cocaína e cristal, em pó e tabletes.

    Abraços!

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    1. Pois é, meu avô Pebim, às escondidas de seus filhos e filhas, entre eles minha mãe, volta e meia, dava um vinho licoroso para os netos, daqueles que a italianada toma no almoço. Ele dava pra gente numa xícara de café.
      A cocaína era vendida como anestésico para dor de dentes etc, vendida na farmácia e tudo.
      Não nego a existência de transtornos mentais, óbvio. Acontece que, hoje em dia, eles são usados de forma leviana, para justificar as atitudes de muito vagabundo por aí; passo muito por isso na escola, o cara é safado, pilantra, preguiçoso etc, aí vem a mãe com um laudo dizendo que o "coitadinho" não tem culpa de ser como é, de mandar professor ir tomar no cu e outras barbaridades. Além disso, entupir a criança de remédio, dopá-la, é muito mais fácil que educá-la, dá muito menos trabalho para os pais. O que tem de pai de aluno vagabundo muito mais vagabundo que o próprio aluno não está escrito em nenhum gibi, meu caro.
      Quanto ao crescente do espectro autista, creio que seja pela exposição das crianças a tablets e celulares. Já vi muitas vezes, em mercados, restaurantes, bebês que nem andavam ainda com um tablet ou celular nas mãos, para que seus pais pudessem ficar tranquilos. Dê um tablet para uma criança e ela fica hipnotizada, robotizada, não dá trabalho nenhum; também é uma forma de sedar a criança. Há estudos mostrando que o uso excessivo de celulares provoca um ensimesmamento, um alheamento do mundo exterior, que acaba sendo uma modalidade de autismo.
      Meu filho não tem celular nem tablet. Prefiro falar a mesma coisa dez vezes por dia pra ele, prefiro corrigi-lo a todo instante se for preciso, ficar bravo com ele às vezes, me estressar, do que torná-lo em um zumbi digital.

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    2. Optei por ceder acesso "quase" franco de tecnologia à minha filha. Ficamos de olhos. Por enquanto, está sendo até positivo.

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    3. Meu filho tem usado um tablet para assistir diariamente às aulas e realizar algumas tarefas. E, aos fins de semana, ele tem algumas horas para jogar. Sempre sentado perto de mim ou da minha esposa.

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