Mergulho (ou a viagem ao centro das minhas vinte mil léguas submarinas)

Nenhuma de minhas mulheres 

Jamais compreendeu 

Nem mesmo se deu conta 

Ou se apercebeu 

De minha profundidade 

De minha zona abissal.


Todas 

Enquanto eu vestia meu escafandro 

Me viam de bermudas de sarja 

E chinelos de dedo.


Todas 

Enquanto eu estava a tomar chocolate quente com rum 

Em meu batiscafo 

A contemplar um pôr-do-sol de águas-vivas 

Me viam com elas a tomar soda limonada 

Em ensolaradas macarronadas dominicais.


Por isso, as amei perdidamente 

Por isso, fui a fundo na superfície delas : 

Nunca desconfiaram dos meus mergulhos.


O mergulho é um ato secreto e solitário.


A dois 

Só o escolher da cor das paredes da sala e do quarto de hóspedes 

Do aroma do desodorizador do banheiro 

E o lugar da nova samambaia.


A dois 

Só o pedalar de mãos dadas aos sábados 

Pelas ciclovias da zona Sul da cidade

O levar o PET ao veterinário 

E o pagar das contas 

No fim do mês.

Postar um comentário

3 Comentários

  1. Adorei, gostaria de ter sido eu o autor desse poema.
    Mudando de assunto, descobri uma coisa "sinistra": você é mais censurado ou bloqueado do que talvez imagine. Notei agora no blogroll do Blogson que todos os blogs indicam quando aconteceu a última publicação. Só no seu não aparece nada. Se ficar mil anos sem publicar ou se fizer isso a cada segundo, ninguém nunca saberá se não estiver disposto a atravessar as barreiras do blogger

    ResponderExcluir
  2. Nâo só censurado e bloqueado; acredito que também vigiado. E não creio que seja só porque de vez em quando eu ponho umas gostosas se pegando (aliás, o que achou do TMM (31)?). Tenho certeza de houve denúncias contra a minha paudurescente Marreta. Não pode ter sido coincidência a tarja de censura ter surgido dois ou três dias depois do meu manifesto de apoio ao passador de rodo Zé Mayer, no caso daquela arapuca de buceta que armaram pra ele e ele, claro, caiu direitinho.
    Enquanto isso, vou tocando a coisa; se um dia me excluírem definitivamente, será uma pena para mim, uma grande perda. Mantenho um clone do Marreta no Wordpress, mas jamais será a mesma coisa, nem passará perto de ser.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Sinceramente, não sei se vale a pena essa integridade. Eu já teria capitulado há muito tempo. Essa capitulação seria na base do "vão-se os anéis, ficam-se os dedos". Primeiro mudaria o nome do blog. Depois, criaria outro no mesmo portal e migraria tudo para o novo, excluindo apenas as peitudas (que continuariam no blog original, agora com outro nome). Sei lá, talvez desse certo. Melhor que ter um no wordpress).

      Excluir