A Ventura de Sísifo (Ou : uma Nênia ao Magistério)

Sísifo é que era feliz.

É bem verdade
Que a pedra
(sua dura rotina, sua inimiga e seu ganha-pão),
Sólida e satisfeita em sua ignorância,
Pétrea e confortável em sua burrice,
Estava lá de volta,
No dia seguinte,
No mesmo lugar,
Ao pé da montanha.
Como se ninguém houvesse,
Dia anterior,
Levado-a, a sofridos suores, ao topo.

E no dia seguinte,
E no dia seguinte,
E no dia seguinte...

Mas a pedra,
Ao menos,
Não se opunha a que a elevassem momentaneamente às alturas,
Não oferecia resistência ou combate
Não reclamava do empurrão:
Não complicava a vida de Sísifo.
E se lá de cima rolava,
E se de novo se punha ao rés do chão
Não era por impertinência,
Não era por provocação,
Não era por insolência.
Era tão-somente pela inércia do seu ser,
Pelo inescapável de sua natureza,
A de quem não nasceu mesmo
Para mirar largos horizontes.

(preferiria, muito mais, eu, uma sala cheia de bem-educadas pedras rolantes)

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2 Comentários

  1. Li e reli este texto...só meio à cabeça que cantar o hino nacional (fora do período de copa do mundo) é de um "absurdo autoritarismo", enquanto cantar funks pornográficos e ostentanção, pichar e grafitar muros com "arte urbana e de 'co testaçào'" ; que a autoridade de um professor pode e deve ser questionada a todo momento; que um empresário dono de um estabelecimento de ensino pode levar calotes e a justiça ainda dá razão ao caloteiro (convivo com esta situação diariamente porque minha mulher é dona de uma escola com ensino até o fundamental I); enfim tantas mazelas que podemos extrair deste texto, não só em relação ao magistério mas em muitos casos que presenciamos durante nossas jornadas. Ótimo texto e reflexão.

    Cássio - Recife/PE

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    1. Pois é, ando sem tempo/ânimo para ler com mais atenção às notícias, mas também não entendi por que tanto estardalhaço em torno do Hino Nacional; qual o mal em cantá-lo?
      É bem o que você falou : kit gay para crianças de 7 anos, pode; um cara pelado para crianças assistirem e tocarem, pode, é até arte, mas cantar o Hino, não?
      Se isso não é ter chegado ao fundo do poço, eu não sei mais o que é.
      E, sim, ser inadimplente no Brasil, hoje, não é mais vergonhoso como antigamente, é motivo de orgulho, é saber levar a vida.
      Abraço.

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