Todo Castigo Pra Corno é Pouco (30)

Gata vira-lata que passa todo o cio na rua, a vadia torna à porta da casa do corno - exaurida da farra, extenuada da boemia, fatigada da esbórnia. Arrebentada, arregaçada, aos cacos, em petição de miséria, roga, mais uma vez, guarida ao chifrudo.
E o corno faz o quê? Bota a vagabunda pra correr? Manda-a cantar em outra freguesia? Porra nenhuma, meus amigos, que corno é corno. O corno lhe dá asilo e refúgio. Cuida das feridas da puta, dá-lhe banho, fumiga a buceta dela  com Neocid para acabar os chatos, faz-lhe nutritiva canja, traz-lhe travesseiro e cobertor, leva-a ao dentista, arruma-lhe os dentes, manda botar pivô e ponte móvel,  dá-lhe penicilina para a sífilis e a gonorreia, casa-se com ela, dá-lhe o próprio nome, a única herança que seu pai lhe deixou.
E a puta? Reconhece a benemerência do corno? Tem-lhe gratidão eterna? Sossega a xavasca e passa a ser dedicada esposa e dona de casa? Porra nenhuma, meus amigos, que puta é puta. Uma vez recuperada, refeita e pronta de novo pra pôr pra jambrar, a biscate cai na orgia mais uma vez. Dá as costas para o corno e sai dando a bunda para outros.
O que resta ao corno? Beber e cantar. Cantar músicas de corno. Ou compô-las. Como é o caso da belíssima canção Coração em Desalinho; na minha opinião, uma das mais tocantes e pungentes músicas do cornuário de nossa MPB. De autoria do nascido português Alcino Correia Ferreira - o que só vem a confirmar que o chifre é multiétnico e multicultural -, mas criado desde os quatro anos de idade no meio da malandragem carioca e batizado por ela de Ratinho, foi celebrizada na voz de Zeca Pagodinho.

Coração em Desalinho
(Ratinho)
Numa estrada dessa vida
Eu te conheci
Oh Flor!
Vinhas tão desiludida
Mal sucedida
Por um falso amor...

Dei afeto e carinho
Como retribuição
Procuraste um outro ninho
Em desalinho
Ficou o meu coração
Meu peito agora é só paixão
Meu peito agora é só paixão...

Tamanha desilusão
Me deste
Oh Flor!
Me enganei redondamente
Pensando em te fazer o bem
Eu me apaixonei
Foi meu mal...

Agora!
Uma enorme paixão me devora
Alegria partiu, foi embora
Não sei viver sem teu amor
Sozinho curto a minha dor...

Numa estrada!
Numa estrada dessa vida
Eu te conheci
Oh Flor!
Vinhas tão desiludida
Mal sucedida
Por um falso amor...

Dei afeto!
Dei afeto e carinho
Como retribuição
Procuraste um outro ninho
Em desalinho
Ficou o meu coração
Meu peito agora é só paixão
Meu peito agora é só paixão...

Tamanha desilusão
Me deste
Oh Flor!
Me enganei redondamente
Pensando em te fazer o bem
Eu me apaixonei
Foi meu mal...

Agora!
Uma enorme paixão me devora
Alegria partiu, foi embora
Não sei viver sem teu amor
Sozinho curto a minha dor
Sozinho curto a minha dor
Sozinho curto a minha dor...

Para ouvir, relembrar da puta e chorar, é só clicar aqui, no meu poderoso MARRETÃO .

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