Uma Ode às Aleluias e aos Pirilampos

Cadê as aleluias
A anunciar a chuva,
A enxurrada dos barquinhos de papel,
As varizes elétricas a cisalhar os céus?
Cadê os dançantes arautos da tormenta,
Os elegantes carteiros de Thor?
Cadê os pirilampos,
Os sinalizadores das horas escuras,
Os batedores da noite,
Os faroleiros do breu,
Os lampiões a alumiar os bailes das corujas, dos sacis e das fadas?
Pergunto, 
Eu, 
Num ganido mudo,
A um crepúsculo sem vermelhos, dourados e lilases.
A um lusco-fusco sem um "Além da Imaginação".

- As aleluias, 
Todas vestidas com galochas,
Continuam a entregar seus telegramas,
A chuva continuar a afogar as ruas
E a atrasar os compromissos.
Foi você quem perdeu o dom de andar sobre as águas,
Foi você quem abandonou,
Covarde,
O timão de seu navio pirata de papel,
Que fica gripado a um simples carinho da garoa,
Que não tem mais virilidade para encarar a ninfomaníaca tempestade.
- Os pirilampos, 
Igualmente, 
Também continuam por aí.
Seguem círios acesos e bruxuleantes
A servir de bússola e de labirinto
Na profana procissão dos insones, dos boêmios e demais palhaços noturnos.
Foi você quem trocou seus óculos de infravermelho
Pelos de velha coroca fazer crochê,
De velho gagá fazer palavras cruzadas,
Foi você quem trocou sua capa de morcego
Pelo pijama listrado de botões e com bolso lateral.

Responde-me, 
O menino enjaulado em minhas catacumbas.
Responde-me,
O menino de quem cortei as asas e quebrei a coluna vertebral.
Ri,
O menino.
Vingativo.
Vingado.

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2 Comentários

  1. Caracoles! Fiquei emocionado lendo este poema! Não me emociono nunca com leituras, mas este pegou em algum chacra desconhecido, agulha de acupuntura no meridiano certo. Muito bom!

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    1. Valeu, JB.
      Só espero que não tenha sido no chacra do terceiro olho!

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