FÓSSEIS

Ah, vontade! 
De andar pelos muros, 
Divisar horizontes de telhados musguentos, 
De braços abertos, pôres do sol agourentos, 
Acastanhados. 
Trem bala, levitar sobre os muros 
Não ter de escolher um lado. 
Ser amigo do tombo.  

Ah, vontade! 
De atravessar o córrego poluído, 
Varar o espaço, de margem a margem, 
(Ponta dos pés, de tênis novos, alados), 
Correndo pelo cano de ferro corroído : 
Tubulações de águas e esgotos municipais. 
Sentir a queda 
Sabendo da impossibilidade de cair.  

Ah, saudade! 
Das minhas ossadas, 
Saudades dos fósseis de mim 
Que minha pá já não consegue escavar.

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3 Comentários

  1. Excelente texto. Feliz aniversário, velhinho.
    "J"

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  2. Gostei tanto que copiei e postei no Blogson sem pedir sua autorização. Se não concordar, eu excluo.

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