3x4 da Lua

Lembro de ti a todo momento.
No movimento,
Na artrite do motor,
No selvagem moto-contínuo da vida.
Lembro. Lembro, sim.
Mas não há mais tempo
De imota e preguiçosa madrugada,
Não há mais paradeiro
Onde possa me sentar, ficar descalço, esticar as pernas
E pensar em ti.
Deixo-te, então, 
Aos ninares e aos acalantos dos céus de outonos invernais
E aos cuidares das estrofes desafinadas dos menestréis,
Sempre ineptos em fazer tuas vontades,
Em adoçar teu café na exata medida,
Em levar-te o chocolate com que adoras te lambuzar,
Em colocar no toca-CD a música em que estás a pensar e a cantarolar baixinho.
Como prova de meu fracasso e de meu carinho, porém,
Levo foto 3x4 tua em minha carteira.
Não daquelas em preto e branco,
Tiradas pelo japonês do bairro.
Daquelas em prata, vácuo e solidão,
Em alta resolução,
Tiradas pela Nasa,
Pelo Hubble,
O J.R. Duran
Das Luazinhas maliciosamente ingênuas,
Cuidadosamente descuidadas
E desnudas.

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6 Comentários

  1. Como alta vive, sempre está a te olhar. Onde quer que vá. Onde quer que se esconda. Aliás, se esconder da Lua não é uma opção.

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  2. um dos poemas mais bonitos que já li no Marreta. Show! (deu até inveja)

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    1. Nessa seca de inspiração em que ando, você nem faz ideia do quanto foi importante esse elogio.
      Valeu!

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  3. Eu tô cega pra cacete mesmo, li essa porra umas 3 vezes e jurava que tinha lido "duas" no final ao invés de "das". Já ia te perguntar que diabos de duas luas você anda vendo, achei que você tava ficando velho e míope, mas pelo visto sou eu. O título é bem legal acabei indo verificar o que levo na minha carteira, afinal é o que dizem: que o homem vale o que tem dentro dela.

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    1. Velho, estou.
      E, na verdade, nem tenho carteira.
      Tudo mentira, tudo licença poética.
      Pobre de quem crê no escritor.

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